A matemática das explosões Juliano Guilherme Marcos Acosta Otavio Avancini Curadoria Rubens Pileggi Sá 27 de julho a 17 de agosto de 2013 |
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A Matemática das Explosões “Não há, na arte, nem passado nem futuro. A arte que não estiver no presente jamais será arte” Picasso O período conhecido como “a volta da pintura”, ocorrido dos anos 80 para os anos 90 do século passado mostrou não só que a pintura nunca se foi, como, também, que ela nunca mais seria a mesma daquela realizada antes dos anos que precederam à arte conceitual. Ao reatualizar artistas como John Baldessari, Richard Hamilton e Hans Richter, por exemplo, a chamada 'década perdida' (na verdade foram duas, por conta da hegemonia neoliberal) conseguiu demonstrar, por certo, que la pittura è una cosa mentale, concordando com Leonardo Da Vinci, muitos séculos antes. A pintura nunca foi só uma questão de habilidade, mas tanto a dimensão relacional quanto a dimensão conceitual não mais será estranha ao pensamento pictórico, como queremos demonstrar na presente mostra. Assim, nossa motivação repousa no fato de que, em arte, procedimentos idênticos podem levar a resultados completamente distintos. Tal distinção é nomeada aqui em três artistas que possuem em comum o prazer pela pesquisa de gestos, pela figuração ambígua e pelo caminho que vai da cor ao desenho. Do desenho ao seu des-caminho. Da métrica à dissolução definitiva da razão. Da busca de uma ação pura ao corte, que altera a percepção da realidade indelevelmente e paradoxalmente, sem que possamos sair dela. Ou melhor, para iluminá-la. Otavio Avancini tem no agora sua pesquisa plástica. Com contundência afirma seu gesto. O lado alegórico busca a concreção. Ao fixar-se, a tinta escorrida ganha sentido de urgência. Essa urgência se materializa em cor, em linha, em boi, gente, paisagem, noite, instante, revelação. Como se o sonho conduzisse a razão para um abismo e, lá, aproximasse visões de mundos distantes. As imagens se soltam de sua condição de mancha e vemos as figuras se transformarem em outras e mais outras. Sua matéria é etérea, pois sabe que nela o tempo age indelevelmente. Marcos Acosta tem revelações metafísicas. Delírios de concreção. Apocalipses de ângulo reto. Massas de cor que se dizem autônomas umas das outras, mas que lutam o tempo todo em contrastes de vibrações cromáticas que explodem e, ao mesmo tempo se contém, diante de nossas retinas. Revelam-se um manual de vestir a máquina da pintura, girando em sentidos complementares o que temos, por princípio, como opostos. Forjam na cor e no contraste de formas o seu tempo dilatado. A natureza se degenera e se regenera em calculada transformação caótica. As obras de Juliano Guilherme trazem revelações perturbadoras. Seus fantasmas sem fim aparecem e desaparecem na paisagem e retornam como linha, estrutura, formas que multiplicam relações entre figuras impares. Sua ação gera conflitos, disputa de territórios, debates geopolíticos de contornos catastróficos que se resolvem na superfície da tela, agora elevada à categoria de desenho, corpo, carne, matéria. Em sua matemática delirante, calcula-se milimetricamente o que lhe cabe de grito. As diferenças os unem. Os três trazem na gestualidade o perfume da figuração. Arte que se expressa porque tem algo a dizer e muito a silenciar diante daquilo que é somente para se ver. Sua base reside na educação do olhar a desvendar sua matemática em estado de explosão. Seu tempo se tece na pele do agora, em meio a gases lacrimogêneos, coquetel molotov e multidão exigindo direitos. E, ainda que a tela em branco imponha sobre o pintor uma postura reflexiva, cada obra desses artistas materializa sobre o tempo que corre, a vida que passa e o momento que escapa, um agora que se inventa. Aquilo que chamamos de vida, mundo, coisa, vento e pensamento só podem existir, então, depois de passar pelo olhar do artista, que é sempre – e só pode ser, no caso da arte – o olhar do seu tempo. Rubens Pileggi Sá julho de 2013 |