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Escalas de Azul apresenta os resultados da Residência CIANOTIPIA TOTAL: Programa inédito no Brasil, realizado pelo Lab Clube, de Aprofundamento Técnico e Desenvolvimento Artístico em Cianotipia sobre Papel, Tecido, Vidro, Espelho, Metal, Cerâmica, Pedra e Madeira. Estruturado em Módulos Prático-Didáticos, Módulos de Análise de Trabalhos e Orientação de Projetos e Módulos de Produção-Imersiva, CIANOTIPIA TOTAL levou 10 artistas, ao longo de 1 ano, a desenvolverem domínio prático-teórico da cianotipia em suportes diversos e a buscarem sentido poético ao relacionar técnica, suporte e conceito no desenvolvimento de trabalhos autorais inéditos. Coube ao Lab Clube, ao longo do ano, desenvolver protocolos específicos de execução técnica para formação de imagens que fossem capazes de ao mesmo tempo preservar e exprimir a natureza material e simbólica de cada um dos diversos suportes, na mesma medida em que fosse elevado ao máximo o rigor e a performance da própria cianotipia, enquanto método fotográfico de reprodução, cópia e gravação de imagens em cada uma das situações igualmente diversas. Angela Rolim - No embate entre a imagem e a realidade existe a mimese que contém uma paisagem. O alto contraste característico de uma longa pesquisa ancorada na fotogravura, dessa vez, encontra na supressão dos meios tons da cianotipia o seu correspondente técnico. O mármore, duro, evidencia a dimensão simbólica do branco, ao mesmo tempo que acentua o limite entre a imagem visível e sua própria abstração. Barbara Almeida - O vidro, e sua capacidade de transparecer, é o suporte eleito para um trabalho que busca questionar a sociedade conservadora, cheia de normas e tradições, que insiste em deixar opaca a mulher por trás dos rótulos de mãe, filha, irmã, esposa, professora, fotógrafa, cientista e química. A mulher está lá. Duda Medeiros – Suas impressões - tão próprias e particulares, tal como suas digitais – tão próprias e particulares, vão sendo evidenciadas como rastros de um embate artístico inaugural. Intervindo diretamente sobre matrizes em cianotipia, um processo de desconstrução química é conduzido através de um gestual capaz de revelar marcas, instigando o expectador em um jogo de investigações e descobertas – tão próprias, quanto comuns. Tão particulares, quanto plurais. Fernanda Sattamini – céu, mar e cianotipia, ancorados semanticamente por um azul que é plano e por um azul que é espaço. Abrir e romper novas vistas diante da paisagem. Desfiar para tecer novos lugares por detrás do horizonte. Flexão e reflexão de um azul-céu, azul-mar, azul-cianotipia. Marcela Falci - Padrões de representação. O feminino proliferado como artigo de consumo na cultura de massa. O corpo a ser consumido. O corpo consumidor de padrões de corpo. O projeto estetizante da beleza, auto-realização e felicidade em representações de produtos. Em um procedimento que remonta a pop art, a repetição em larga escala do seu próprio rosto-corpo. A tiragem que se antecipa e se deforma. Subverte o corpo-produto a ser consumido dessa vez como crítica a mais uma e tantas demandas de consumo. Recomeçar. Outras formas de modelar. Desvestir a roupa de uma vida inteira sujeito-objeto de consumo. Marciah Rommes – A síntese do pigmento azul da Prússia, obtido pelo processo da cianotipia, ocorre e passar a ser incorporado pela massa polimérica desenvolvida pela artista. Arranjos abstratos - fruto de um imaginário cultural impresso na História da Arte, encontram na simetria do quadrado branco de pequenas dimensões, sua correspondência com a iconografia típica de toda azulejaria além-mar. Vocábulos que se desprendem do papel, ganham autonomia volumétrica, na construção de uma linguagem que se articula entre o plano e o espaço. Taci de Farias - O diálogo com o conceito de Partialism - fetiche em partes do corpo que não os órgãos sexuais, motivam uma observação sistemática daquilo que em outros, próximos e íntimos da artista, são pedaços com potencial de desertar o desejo alheio. Mas é possível supor e recortar o que pode ser fetiche para o outro sem que esteja implicado no olhar nosso próprio desejo? Como a pele que reveste o corpo, sente e é sentida, fragmentos de corpos vestem um manequim, representações de um todo capaz de ser desejado e desejante. Cindy Doria - Uma fotografia pode conter diversas imagens. Pequenos detalhes podem revelar grandes afetos. Apropriação e deslocamento enfatizam que essas imagens não são o assunto principal no contexto de onde vieram. Mais do que um suporte para costura, ao fotografar fotografias, a dimensão anelar dos bastidores comportam-se como lentes de uma câmera em zoom, amplificando e aproximando o observador dos pequenos grandes gestos de intimidade contidos no acervo de fotografias de família da artista. Flávia Costa e Monica Leme - Uma taxonomia do afeto, da memória, dos laços que ligam a artista à família, à casa, ao seu pai Gomes. Coletando e inventariando espécimes do quintal da casa dos pais, O Jardim do Dr. Gomes é inspirado pelo trabalho da botânica e fotógrafa inglesa Anna Atkins, que lançou em 1843 seu 'Photographs of British Algae: Cyanotype Impressions' considerado o primeiro livro de fotografias de que se tem notícia. Sergio Rocha - A cidade a ser reinventada. Espaços e lugares despidos do seu realismo fotográfico são rebaixados à condição de projeto. Estruturas arquitetônicas e paisagens urbanas retornam à prancheta. Inspirado no uso recorrente da cianotipia como meio de cópia/reprodução de mapas e plantas arquitetônicas, o trabalho estabelece um percurso de negação e convite, um caminho inverso, urgente, do real ao projeto para um novo projeto real de cidade, espaços e lugares. |