Boletim Informativo do MARGS,
ano 2, nº 4, jan/abr, 1977
Selecta do Museu - Entre-falas: Sistema
Mercado de Arte
Após os depoimentos de marchands e colecionadores sobre o nosso mercado de arte, chegou a vez dos artistas plásticos. Estão presentes aqui Alice Brueggemann, Carlos Alberto Petrucci, Carlos Asp, Elizabeth Nuñes, Francisco Stockinger, Gomercindo Pacheco (Guma), Ilsa Monteiro, José Carlos Moura, Maria Lídia Magliani, Paulo Porcella, Plínio César Bernhardt, Rose Lutzenberger, Zorávia Bettiol, que respondem às seguintes perguntas:
– A arte lhe basta para viver?
– O mercado de arte pressiona e condiciona o artista a um tipo de produção vendável?
– O uso do suporte não-convencional restringe a aceitação da obra por parte do comprador?
– Prefere trabalhar com a peça única ou com múltiplos?
– De que maneira prefere comercializar a sua obra?
A arte lhe basta para viver?
Alice – A arte me bastaria, porém, prefiro desenvolver paralelamente outra atividade.
Petrucci – Sempre tive uma atividade paralela que me garantisse o pão e me permitisse pintar com liberdade o que quero e gosto.
Asp – Arte não é um meio de vida. Um caminho, uma ligação com a Unidade, uma maneira de realizar, evoluir e crescer. Mas, paralelamente à atividade artística, estudo e pesquiso astrologia, que me serve, inclusive, como fonte de renda maior, pelo trabalho de orientação astrológica.
Beth – Nunca encarei o resultado econômico de meu trabalho como condição de sobrevivência. Contudo, reconheço a necessidade de o “fazer artístico” tornar-se uma atividade profissional, para que possa ser encarado com maior seriedade e melhor desenvolvido.
Xico – Atualmente, sobrevivo apenas fazendo escultura; já poderia estar vivendo apenas de escultura desde 1962.
Guma – Atualmente, estou produzindo bastante e vivendo somente da minha arte.
Ilsa – Poucas são as pessoas que se encontram em paz com a vida, pois vida é luta pela própria vida. Mas, lutar fazendo arte ainda é uma das coisas mais gratificantes que a pessoa pode ter, independentemente do resultado econômico que poderá advir deste seu fazer. Se a criatividade não desse uma satisfação imediata, não teríamos tanto artista no mundo. Não dependo economicamente da arte, mas dependo dela pelo que me renova e me vivifica.
Moura – Estou vivendo exclusivamente do trabalho de arte desde que decidi encarar meu trabalho como profissão, isso não foi fácil e nem está sendo. Uma vez assumida essa posição, me dediquei a trabalhar diariamente porque o envolvimento constante com aquilo que se faz é muito importante inclusive a seqüência e o desenvolvimento do trabalho é muito mais proveitoso e a evolução aparece mais evidente do que passando intervalos sem trabalhar.
Magliani – Economicamente a arte não me basta para viver. Sempre precisei exercer outras atividades, umas por gosto, outras por necessidade, todas mal remuneradas.
Porcella – Desenvolvo outra atividade porque o nosso mercado de arte é muito irregular.
Plínio – Nunca consegui viver só da arte. Lecionei e fui desenhista técnico durante muitos anos, para conseguir continuar pintando. Só de alguns anos para cá é que a arte tem me dado resultados financeiros mais compensadores.
Rose – Todas as atividades profissionais que já exerci, direta ou indiretamente, relacionam-se com arte, arte publicitária, magistério no Instituto de Artes da UFRGS, além das demais experiências com jóias, gravura e escultura.
Zorávia – Sim. Não posso desenvolver outra atividade, pois o trabalho do ateliê me ocupa a média de 12 horas diárias.
O mercado de arte pressiona e condiciona o artista a um tipo de produção vendável?
Alice – Não necessariamente.
Petrucci – Sim. A prova disto é que grande parte dos artistas, na maturidade, hegando a um equilíbrio entre qualidade e aceitação, cristalizam-se, repetem-se porque é isto o que o público e o mercado esperam deles. Infelizmente, é assim no Rio Grande, no Brasil e no mundo.
Asp – Se mercado de arte quer dizer um sistema dirigido de galerias e marchands que tentam definir o que deve ou não ser comprado (digerido) pelos eventuais colecionadores, auxiliados por fraqueza ou ganância de alguns bem-dotados artesãos da cor e da forma, se poderia dizer que existe até um complô armado entre estes para deformar a cultura de um povo (uma cidade), sem permitir assim que formas não concordes com os padrões por eles definidos como vendáveis cheguem sequer ser mostrados ao público em geral.
Beth – Não creio que o mercado de arte exerça alguma pressão diretamente sobre a produção do artista. Creio, sim, que é o próprio sistema em que vivemos que nos condiciona a um tipo de comportamento; como membros de uma sociedade capitalista e competitiva, sofremos pressões e condicionamentos aos quais algunssão mais vulneráveis e outros menos, pelos mais variados motivos, desde necessidade de sobrevivência até a necessidade de status, projeção, compensação em nível emocional, etc.
Xico – A questão de condicionamento não é uma questão de mercado de arte, mas sim de falta de personalidade artística e mesmo moral.
Guma – O mercado tem adquirido toda a minha produção sem nenhuma exigência.
Ilsa – Quanto à questão de que o mercado de arte pode pressionar o artista a um certo tipo de produção vendável, acho que cabe ao artista preservar sua liberdade, atendendo ou não a preferência do público. Esta preferência resulta geralmente do acerto do artista, e o que mais o condiciona não é o mercado, mas sim o próprio acerto, pelo medo ao desacerto.
Moura – É evidente que existem casos, mas quem procede assim está com os dias de sua carreira contados, porque ninguém consegue enganar por muito tempo. O artista deve ser tão autêntico ao ponto de impor aquilo que faz, aquilo que tem vontade e acha que é certo, tem que ser coerente consigo mesmo e não deixar que os outros imponham os seus gostos e desejos.
Magliani – Não é exatamente o mercado de arte que pressiona e condiciona, mas pode haver pressões através dele, causadas por uma estrutura (ou falta de) econômica muito complexa, da qual o mercado de arte é apenas uma parte a ser considerada.
Porcella – Se o artista estiver a fim de aumentar sua conta bancária, talvez, mas é uma atitude muito pessoal.
Plínio – Quando eu não vendia, fazia arte exatamente como queria fazer. Hoje, vendo bastante e continuo fazendo o que eu quero. Logo, o mercado de arte não pressiona o artista, mas sim passa a aceitá-lo. Mas ninguém se engane, o artista só passa a vender bem uma arte aprimorada e definitiva, que é sempre fruto de muitos anos de trabalho.
Rose – Certas manifestações artísticas agradam mais ao público consumidor do que outras, no entanto, não acredito que um artista cônscio e convicto da sua forma de expressão se deixe pressionar ou condicionar por tendências do mercado de arte.
Zorávia – Não acredito nisso embora haja, muitas vezes, a “moda” de tal técnica, tema ou artista, mas de efêmera duração. Um trabalho bom e sério acaba tendo o seu público.
O uso do suporte não-convencional restringe a aceitação da obra por parte do comprador?
Alice – Sim, o comprador se preocupa com a durabilidade da obra.
Petrucci – O comprador desconfia do suporte nãoconvencional por não conhecer a sua resistência ao tempo. Todo comprador, por menos ambicioso que seja, deseja ver a obra que possui bem conservada e valorizada.
Asp – Não existe este “uso de suporte não-convencional”, pois o que se poderia dizer convencional como suporte quando até idéias não fixadas podem servir como manifestação artística? O que existe é a obra ou atuação ou acontecimento, e a vivência desta situação. Participar de um ato é maior que possuí-lo. No momento em que cessem as regalias de poder econômico para alguns, no sentido de possuidores únicos, uma maior inter-relação entre público e obra poderá se dar, visto que será necessário viver ao máximo o instante, o acontecimento sem a angústia de querer comprar a obra; elimina-se o silêncio posterior do isolamento com o único dono, a morte em vida da obra.
Beth – Realmente, o público de arte ainda está condicionado por “conceitos” de arte que nos vêm de muitos séculos. Há um gosto, uma maneira de ver e sentir a “obra de arte” muito presa ainda a valores estabelecidos no passado, que não evoluíram paralelamente com as ciências, as artes e a própria humanidade (tecnologia). Em termos de “arte” ainda se faz muita restrição ao novo, ao não-convencional, ao que rompe as barreiras e extrapola. É mais fácil aceitar o conhecido, o já feito, o que já está dentro e ajustado a uma escala de valores estabelecidos.
Xico – Não entendo muito bem a pergunta, mas vou respondê-la. A obra de arte para ser apreciada em sua plenitude deve estar condignamente apresentada, isto é, um quadro ganha quando bem emoldurado e bem iluminado. Da mesma forma, uma escultura colocada sobre um suporte que a coloque à altura dos olhos, é melhor apreciada do que jogada num canto do chão. Mas em todos os casos, o valor artístico da obra continua o mesmo.
Guma – Sim. O trabalho tem que ser sólido, ter durabilidade, caso contrário não é adquirido. No meu caso, emprego somente madeira de lei em minhas esculturas. No início, usava qualquer tipo de material, porém, agora eu os seleciono.
Ilsa – Geralmente o suporte não-convencional não se insere no esquema de mercado de arte, a menos que ele conserve certos valores estéticos tradicionais de forma, equilíbrio e harmonia. O que foge deste contexto perturba o comprador, que não está disposto a arriscar em possíveis valores que só o tempo irá determinar. O artista é, por natureza, contestador e muitas vezes se empolga com os conteúdos de protesto e acaba esquecendo da forma plástica. Um protesto despido ninguém compra. Mesmo porque o mercado está saturado de protestos. Protesta-se inclusive de graça.
Moura – O que tem acontecido na maioria das vezes quando se quer inovar em matéria de suporte é o mau gosto e a não-funcionalidade de tais suportes. Ninguém quer pôr em sua casa um objeto que não tenha nenhuma funcionalidade, ou seja uma arapuca que não dá certo em nenhum canto do ambiente. Essas coisas modernosas restringem, sim, a aceitação, e com muita razão. Eu acho que se deve inovar, mas com bastante cautela, analisando os prós e os contras.
Magliani – Já assisti a episódios engraçados em que realmente a moldura era mais discutida e mais considerada do que a obra em si. Este é um problema de formação e não só dos compradores; alguns negociantes de arte também têm a tendência a supervalorizar o suporte. Quanto ao suporte não-convencional, este é geralmente usado em obras não-convencionais e talvez o conjunto obra-suporte, este sim, restringe a aceitação, mas me parece um problema do comprador e não da obra. Esta não pode se restringir, limitar à (in)formação daquele.
Porcella – Poderia dizer que sim, pois não se poderia comprar indiscriminadamente certas obras, quando não teríamos onde colocá-las.
Plínio – Não, não restringe. Quando a obra tem valor artístico é vendida da mesma forma, porém o comprador não paga para levar obras perecíveis, de papelão ou papel de embrulho. Em artes plásticas, idéias não podem ser vendidas, devem ser documentadas.
Rose – As características físicas desses suportes nãoconvencionais muitas vezes exigem espaços especiais e expressam conteúdos que não se enquadram em qualquer
ambiente. Obviamente, por estas razões, a aceitação da obra por parte do público consumidor pode se tornar bastante restrita, o que, no entanto, não vem em detrimento de seu valor como obra de arte.
Zorávia – A escolha de um suporte convencional ou não é um detalhe que vai depender do gosto e da mentalidade do comprador.
Prefere trabalhar com a peça única ou com múltiplos?
Alice – Gosto da peça única, mas os múltiplos me possibilitam alcançar um público maior.
Petrucci – Com a peça única. Me expresso melhor através da pintura, não tenho, portanto, opção.
Asp – Essa pergunta não faz mais sentido pela razão de que qualquer maneira ou situação pode receber uma interferência criativa ou mesmo uma inter-relação, racional ou sensitiva. As manifestações devem abandonar a linearidade lógica para não caírem no óbvio castrador.
Beth – Em termos de preferência de linguagem, por necessidade muito íntima, me expresso melhor através de técnicas que têm como resultado a obra única, ou seja, desenho e pintura; mas reconheço a vantagem, na época atual, e mesmo a grande necessidade, do usode uma linguagem expressiva que comunique e atinja um maior público, que se torne mais acessível, que desmistifique e deselitize a “obra única”. Vejo, na gravura, uma das melhores opções.
Xico – Na questão dos múltiplos ando numa confusão sem tamanho. Eu não faço múltiplos. Eu tiro um certo número de cópias e as numero, em geral como se numera uma gravura. Não me consta que uma gravura seja um múltiplo, no sentido que se procurou dar a esta palavra há uns 10 anos.
Guma – Prefiro trabalhar com a peça única, nunca faço repetição. A vantagem disso é que sempre terá mercado, pois quando a peça é rara ela torna-se bastante procurada.
Ilsa – O múltiplo representa uma dupla vantagem, tanto para o artista, que pode divulgar melhor sua obra, como para o comprador, que pode adquiri-la por preço mais acessível. Tentei fazer múltiplos com acrílico, que ficaram reduzidos a dois exemplares apenas, não iguais, mas semelhantes. Concluo, portanto, que o múltiplo executado pelo próprio artista é quase uma peça única.
Moura – Sempre tive uma queda muito especial para o lado do múltiplo, a razão da escolha já vem da personalidade da pessoa, pois o trabalho de cada um se presta mais para determinada técnica. Acredito também que o múltiplo tem várias vantagens, por exemplo: é mais acessível no preço, divulga mais o artista pelo fato de estar em vários lugares ao mesmo tempo com o mesmo trabalho. Apesar de que muitas pessoas ainda não compram múltiplos porque não gostariam de ver um trabalho igual ao seu na casa do vizinho mais pobre.
Magliani – A feitura de peça única me interessa mais porque é mais direta, não depende de intermediários. Os múltiplos me interessam pela possibilidade de tornar o trabalho mais acessível a um público mais amplo. No meu caso não há vantagens nem opção. Gostaria de trabalhar com gravura mas atualmente não poderia montar um ateliê de lito, por exemplo, nem teria tempo para me dedicar como seria necessário (sou uma péssima impressora).
Porcella – Ambas se equivalem, depende somente do tipo da obra e técnica.
Plínio – Adotei as duas formas. O desenho ou a pintura trazem o toque indelével do momento da criação. O múltiplo (no caso da gravura) perde muito no momento da reprodução mecânica, mas, por outro lado, atinge um número maior de pessoas.
Rose – Trabalho com ambas as possibilidades. Como vantagens do múltiplo, assinalo: para o artista, maior divulgação e rentabilidade; para o comprador, uma aquisição autenticada e de bom nível a preço mais acessível.
Zorávia – Como acho que no fim do século XX a arte deve, por todos os meios possíveis, atingir o maior número de pessoas, sou a favor do múltiplo e da tiragem, quando feitos com critério e qualidade. Acho que a escola, o museu, o ateliê, a galeria, a televisão, o cinema, o livro, a revista, o jornal, etc, são meios valiosos de divulgar as artes plásticas, quando dirigidos por profissionais competentes. É importante também o monumento, o mural, a peça única, enfim, em praça e edifícios públicos ou particulares.
De que maneira prefere comercializar a sua obra?
Alice – Através de galerias e marchands.
Petrucci – Nos últimos anos tenho feito isso diretamente com o comprador. Não é o ideal, mas a minha obra atual é numericamente pequena por serem os quadros muito trabalhados; raramente tenho quadros disponíveis para serem vendidos em galerias.
Beth – Sendo o ato de criação, que muitas vezes resulta em “obra”, uma das mais importantes manifestações humanas, não me agrada o caráter comercial de que está revestido; pertencendo à área da emoção, da sensibilidade, do pensamento, de toda uma postura do ser humano diante da vida, uma manifestação de humanidade (mesmo que intelectualizada), não pode ser arrolada no terreno puro e simples do comércio. No entanto, tenho de reconhecer, numa ponderação lógica, que vivemos numa sociedade que valoriza todo o trabalho em termos de comércio e portanto tudo deve ter seu valor comercial. Apenas me limito a aceitar o fato como contingência inevitável. Existe um valor comercial para o meu trabalho. Procuro, no entanto, preservar minha liberdade de aceitar ou não as decorrências deste fato no momento oportuno.
Xico – Eu vendo o meu peixe de qualquer maneira, mas prefiro me manter afastado disso. Prefiro que as galerias tratem do assunto. Ganha-se menos, é certo, mas eu prefiro assim.
Guma – Divulgando meus trabalhos; a obra fica conhecida e automaticamente comercializada. Prefiro vender em meu próprio ateliê que já está sendo bastante procurado pelos colecionadores.
Ilsa – Francamente não sei o que responder, talvez porque não tenha havido nenhuma preocupação de minha parte a respeito deste assunto.
Moura – Ainda prefiro as galerias porque é o meio mais adequado de maior número de pessoas apreciarem o trabalho, pois não se faz arte só para aqueles que têm condições de comprar arte. Porém, o lado financeiro fica bastante prejudicado porque a galeria cobra uma certa percentagem, o que é muito justo, pois ninguém deve trabalhar de graça. Acrescentando nessa percentagem mais a parte de suporte, mais material, dificilmente o artista recebe 50 % do valor comercial da obra.
Magliani – Gosto do sistema de galerias, desde que o marchand não se intrometa no trabalho do artista e não se exima do seu, ou imponha condições que conflituem com os princípios de cada artista. Eu não saberia comercializar meus trabalhos, não sei lidar com dinheiro, prefiro que o marchand o faça. Ele entende mais do mercado do que eu; mas da minha pintura eu pretendo entender mais do que ele. Não tenho marchand particular, nem creio que algum se interessasse, pois não tenho um mercado muito amplo. Trabalho com as galerias que se interessam pelo meu trabalho e discuto muito quando não concordo com alguma coisa. Gostaria que houvesse mais dinamismo nas galerias e também que os que lidam com arte confiassem mais no trabalho do artista gaúcho e o divulgassem fora do Estado. Atualmente me parece que este trabalho tem que ser feito pelo próprio artista interessado e eu não sei até que ponto é do interesse ou da atribuição do marchand.
Porcella – Sou pintor e não comerciante, portanto a melhor maneira de comercializar a minha obra é aquela que não me envolva no processo.
Plínio – Através de galerias e marchands.
Rose – Preferencialmente por meio de instituições culturais, particularmente e eventualmente por meio de galerias comerciais.
Zorávia – O ideal seria o artista ter um representante, que se encarregasse de divulgar e comercializar seu trabalho nacional e internacionalmente. Mas, infelizmente, isso é uma utopia, pois carecemos de elemento humano para essa função. Sou obrigada, pelas circunstâncias, a divulgar e comercializar meu trabalho com a ajuda de nossas secretárias, por meio de meu ateliê.
ano 2, nº 4, jan/abr, 1977
Selecta do Museu - Entre-falas: Sistema
Mercado de Arte
Após os depoimentos de marchands e colecionadores sobre o nosso mercado de arte, chegou a vez dos artistas plásticos. Estão presentes aqui Alice Brueggemann, Carlos Alberto Petrucci, Carlos Asp, Elizabeth Nuñes, Francisco Stockinger, Gomercindo Pacheco (Guma), Ilsa Monteiro, José Carlos Moura, Maria Lídia Magliani, Paulo Porcella, Plínio César Bernhardt, Rose Lutzenberger, Zorávia Bettiol, que respondem às seguintes perguntas:
– A arte lhe basta para viver?
– O mercado de arte pressiona e condiciona o artista a um tipo de produção vendável?
– O uso do suporte não-convencional restringe a aceitação da obra por parte do comprador?
– Prefere trabalhar com a peça única ou com múltiplos?
– De que maneira prefere comercializar a sua obra?
A arte lhe basta para viver?
Alice – A arte me bastaria, porém, prefiro desenvolver paralelamente outra atividade.
Petrucci – Sempre tive uma atividade paralela que me garantisse o pão e me permitisse pintar com liberdade o que quero e gosto.
Asp – Arte não é um meio de vida. Um caminho, uma ligação com a Unidade, uma maneira de realizar, evoluir e crescer. Mas, paralelamente à atividade artística, estudo e pesquiso astrologia, que me serve, inclusive, como fonte de renda maior, pelo trabalho de orientação astrológica.
Beth – Nunca encarei o resultado econômico de meu trabalho como condição de sobrevivência. Contudo, reconheço a necessidade de o “fazer artístico” tornar-se uma atividade profissional, para que possa ser encarado com maior seriedade e melhor desenvolvido.
Xico – Atualmente, sobrevivo apenas fazendo escultura; já poderia estar vivendo apenas de escultura desde 1962.
Guma – Atualmente, estou produzindo bastante e vivendo somente da minha arte.
Ilsa – Poucas são as pessoas que se encontram em paz com a vida, pois vida é luta pela própria vida. Mas, lutar fazendo arte ainda é uma das coisas mais gratificantes que a pessoa pode ter, independentemente do resultado econômico que poderá advir deste seu fazer. Se a criatividade não desse uma satisfação imediata, não teríamos tanto artista no mundo. Não dependo economicamente da arte, mas dependo dela pelo que me renova e me vivifica.
Moura – Estou vivendo exclusivamente do trabalho de arte desde que decidi encarar meu trabalho como profissão, isso não foi fácil e nem está sendo. Uma vez assumida essa posição, me dediquei a trabalhar diariamente porque o envolvimento constante com aquilo que se faz é muito importante inclusive a seqüência e o desenvolvimento do trabalho é muito mais proveitoso e a evolução aparece mais evidente do que passando intervalos sem trabalhar.
Magliani – Economicamente a arte não me basta para viver. Sempre precisei exercer outras atividades, umas por gosto, outras por necessidade, todas mal remuneradas.
Porcella – Desenvolvo outra atividade porque o nosso mercado de arte é muito irregular.
Plínio – Nunca consegui viver só da arte. Lecionei e fui desenhista técnico durante muitos anos, para conseguir continuar pintando. Só de alguns anos para cá é que a arte tem me dado resultados financeiros mais compensadores.
Rose – Todas as atividades profissionais que já exerci, direta ou indiretamente, relacionam-se com arte, arte publicitária, magistério no Instituto de Artes da UFRGS, além das demais experiências com jóias, gravura e escultura.
Zorávia – Sim. Não posso desenvolver outra atividade, pois o trabalho do ateliê me ocupa a média de 12 horas diárias.
O mercado de arte pressiona e condiciona o artista a um tipo de produção vendável?
Alice – Não necessariamente.
Petrucci – Sim. A prova disto é que grande parte dos artistas, na maturidade, hegando a um equilíbrio entre qualidade e aceitação, cristalizam-se, repetem-se porque é isto o que o público e o mercado esperam deles. Infelizmente, é assim no Rio Grande, no Brasil e no mundo.
Asp – Se mercado de arte quer dizer um sistema dirigido de galerias e marchands que tentam definir o que deve ou não ser comprado (digerido) pelos eventuais colecionadores, auxiliados por fraqueza ou ganância de alguns bem-dotados artesãos da cor e da forma, se poderia dizer que existe até um complô armado entre estes para deformar a cultura de um povo (uma cidade), sem permitir assim que formas não concordes com os padrões por eles definidos como vendáveis cheguem sequer ser mostrados ao público em geral.
Beth – Não creio que o mercado de arte exerça alguma pressão diretamente sobre a produção do artista. Creio, sim, que é o próprio sistema em que vivemos que nos condiciona a um tipo de comportamento; como membros de uma sociedade capitalista e competitiva, sofremos pressões e condicionamentos aos quais algunssão mais vulneráveis e outros menos, pelos mais variados motivos, desde necessidade de sobrevivência até a necessidade de status, projeção, compensação em nível emocional, etc.
Xico – A questão de condicionamento não é uma questão de mercado de arte, mas sim de falta de personalidade artística e mesmo moral.
Guma – O mercado tem adquirido toda a minha produção sem nenhuma exigência.
Ilsa – Quanto à questão de que o mercado de arte pode pressionar o artista a um certo tipo de produção vendável, acho que cabe ao artista preservar sua liberdade, atendendo ou não a preferência do público. Esta preferência resulta geralmente do acerto do artista, e o que mais o condiciona não é o mercado, mas sim o próprio acerto, pelo medo ao desacerto.
Moura – É evidente que existem casos, mas quem procede assim está com os dias de sua carreira contados, porque ninguém consegue enganar por muito tempo. O artista deve ser tão autêntico ao ponto de impor aquilo que faz, aquilo que tem vontade e acha que é certo, tem que ser coerente consigo mesmo e não deixar que os outros imponham os seus gostos e desejos.
Magliani – Não é exatamente o mercado de arte que pressiona e condiciona, mas pode haver pressões através dele, causadas por uma estrutura (ou falta de) econômica muito complexa, da qual o mercado de arte é apenas uma parte a ser considerada.
Porcella – Se o artista estiver a fim de aumentar sua conta bancária, talvez, mas é uma atitude muito pessoal.
Plínio – Quando eu não vendia, fazia arte exatamente como queria fazer. Hoje, vendo bastante e continuo fazendo o que eu quero. Logo, o mercado de arte não pressiona o artista, mas sim passa a aceitá-lo. Mas ninguém se engane, o artista só passa a vender bem uma arte aprimorada e definitiva, que é sempre fruto de muitos anos de trabalho.
Rose – Certas manifestações artísticas agradam mais ao público consumidor do que outras, no entanto, não acredito que um artista cônscio e convicto da sua forma de expressão se deixe pressionar ou condicionar por tendências do mercado de arte.
Zorávia – Não acredito nisso embora haja, muitas vezes, a “moda” de tal técnica, tema ou artista, mas de efêmera duração. Um trabalho bom e sério acaba tendo o seu público.
O uso do suporte não-convencional restringe a aceitação da obra por parte do comprador?
Alice – Sim, o comprador se preocupa com a durabilidade da obra.
Petrucci – O comprador desconfia do suporte nãoconvencional por não conhecer a sua resistência ao tempo. Todo comprador, por menos ambicioso que seja, deseja ver a obra que possui bem conservada e valorizada.
Asp – Não existe este “uso de suporte não-convencional”, pois o que se poderia dizer convencional como suporte quando até idéias não fixadas podem servir como manifestação artística? O que existe é a obra ou atuação ou acontecimento, e a vivência desta situação. Participar de um ato é maior que possuí-lo. No momento em que cessem as regalias de poder econômico para alguns, no sentido de possuidores únicos, uma maior inter-relação entre público e obra poderá se dar, visto que será necessário viver ao máximo o instante, o acontecimento sem a angústia de querer comprar a obra; elimina-se o silêncio posterior do isolamento com o único dono, a morte em vida da obra.
Beth – Realmente, o público de arte ainda está condicionado por “conceitos” de arte que nos vêm de muitos séculos. Há um gosto, uma maneira de ver e sentir a “obra de arte” muito presa ainda a valores estabelecidos no passado, que não evoluíram paralelamente com as ciências, as artes e a própria humanidade (tecnologia). Em termos de “arte” ainda se faz muita restrição ao novo, ao não-convencional, ao que rompe as barreiras e extrapola. É mais fácil aceitar o conhecido, o já feito, o que já está dentro e ajustado a uma escala de valores estabelecidos.
Xico – Não entendo muito bem a pergunta, mas vou respondê-la. A obra de arte para ser apreciada em sua plenitude deve estar condignamente apresentada, isto é, um quadro ganha quando bem emoldurado e bem iluminado. Da mesma forma, uma escultura colocada sobre um suporte que a coloque à altura dos olhos, é melhor apreciada do que jogada num canto do chão. Mas em todos os casos, o valor artístico da obra continua o mesmo.
Guma – Sim. O trabalho tem que ser sólido, ter durabilidade, caso contrário não é adquirido. No meu caso, emprego somente madeira de lei em minhas esculturas. No início, usava qualquer tipo de material, porém, agora eu os seleciono.
Ilsa – Geralmente o suporte não-convencional não se insere no esquema de mercado de arte, a menos que ele conserve certos valores estéticos tradicionais de forma, equilíbrio e harmonia. O que foge deste contexto perturba o comprador, que não está disposto a arriscar em possíveis valores que só o tempo irá determinar. O artista é, por natureza, contestador e muitas vezes se empolga com os conteúdos de protesto e acaba esquecendo da forma plástica. Um protesto despido ninguém compra. Mesmo porque o mercado está saturado de protestos. Protesta-se inclusive de graça.
Moura – O que tem acontecido na maioria das vezes quando se quer inovar em matéria de suporte é o mau gosto e a não-funcionalidade de tais suportes. Ninguém quer pôr em sua casa um objeto que não tenha nenhuma funcionalidade, ou seja uma arapuca que não dá certo em nenhum canto do ambiente. Essas coisas modernosas restringem, sim, a aceitação, e com muita razão. Eu acho que se deve inovar, mas com bastante cautela, analisando os prós e os contras.
Magliani – Já assisti a episódios engraçados em que realmente a moldura era mais discutida e mais considerada do que a obra em si. Este é um problema de formação e não só dos compradores; alguns negociantes de arte também têm a tendência a supervalorizar o suporte. Quanto ao suporte não-convencional, este é geralmente usado em obras não-convencionais e talvez o conjunto obra-suporte, este sim, restringe a aceitação, mas me parece um problema do comprador e não da obra. Esta não pode se restringir, limitar à (in)formação daquele.
Porcella – Poderia dizer que sim, pois não se poderia comprar indiscriminadamente certas obras, quando não teríamos onde colocá-las.
Plínio – Não, não restringe. Quando a obra tem valor artístico é vendida da mesma forma, porém o comprador não paga para levar obras perecíveis, de papelão ou papel de embrulho. Em artes plásticas, idéias não podem ser vendidas, devem ser documentadas.
Rose – As características físicas desses suportes nãoconvencionais muitas vezes exigem espaços especiais e expressam conteúdos que não se enquadram em qualquer
ambiente. Obviamente, por estas razões, a aceitação da obra por parte do público consumidor pode se tornar bastante restrita, o que, no entanto, não vem em detrimento de seu valor como obra de arte.
Zorávia – A escolha de um suporte convencional ou não é um detalhe que vai depender do gosto e da mentalidade do comprador.
Prefere trabalhar com a peça única ou com múltiplos?
Alice – Gosto da peça única, mas os múltiplos me possibilitam alcançar um público maior.
Petrucci – Com a peça única. Me expresso melhor através da pintura, não tenho, portanto, opção.
Asp – Essa pergunta não faz mais sentido pela razão de que qualquer maneira ou situação pode receber uma interferência criativa ou mesmo uma inter-relação, racional ou sensitiva. As manifestações devem abandonar a linearidade lógica para não caírem no óbvio castrador.
Beth – Em termos de preferência de linguagem, por necessidade muito íntima, me expresso melhor através de técnicas que têm como resultado a obra única, ou seja, desenho e pintura; mas reconheço a vantagem, na época atual, e mesmo a grande necessidade, do usode uma linguagem expressiva que comunique e atinja um maior público, que se torne mais acessível, que desmistifique e deselitize a “obra única”. Vejo, na gravura, uma das melhores opções.
Xico – Na questão dos múltiplos ando numa confusão sem tamanho. Eu não faço múltiplos. Eu tiro um certo número de cópias e as numero, em geral como se numera uma gravura. Não me consta que uma gravura seja um múltiplo, no sentido que se procurou dar a esta palavra há uns 10 anos.
Guma – Prefiro trabalhar com a peça única, nunca faço repetição. A vantagem disso é que sempre terá mercado, pois quando a peça é rara ela torna-se bastante procurada.
Ilsa – O múltiplo representa uma dupla vantagem, tanto para o artista, que pode divulgar melhor sua obra, como para o comprador, que pode adquiri-la por preço mais acessível. Tentei fazer múltiplos com acrílico, que ficaram reduzidos a dois exemplares apenas, não iguais, mas semelhantes. Concluo, portanto, que o múltiplo executado pelo próprio artista é quase uma peça única.
Moura – Sempre tive uma queda muito especial para o lado do múltiplo, a razão da escolha já vem da personalidade da pessoa, pois o trabalho de cada um se presta mais para determinada técnica. Acredito também que o múltiplo tem várias vantagens, por exemplo: é mais acessível no preço, divulga mais o artista pelo fato de estar em vários lugares ao mesmo tempo com o mesmo trabalho. Apesar de que muitas pessoas ainda não compram múltiplos porque não gostariam de ver um trabalho igual ao seu na casa do vizinho mais pobre.
Magliani – A feitura de peça única me interessa mais porque é mais direta, não depende de intermediários. Os múltiplos me interessam pela possibilidade de tornar o trabalho mais acessível a um público mais amplo. No meu caso não há vantagens nem opção. Gostaria de trabalhar com gravura mas atualmente não poderia montar um ateliê de lito, por exemplo, nem teria tempo para me dedicar como seria necessário (sou uma péssima impressora).
Porcella – Ambas se equivalem, depende somente do tipo da obra e técnica.
Plínio – Adotei as duas formas. O desenho ou a pintura trazem o toque indelével do momento da criação. O múltiplo (no caso da gravura) perde muito no momento da reprodução mecânica, mas, por outro lado, atinge um número maior de pessoas.
Rose – Trabalho com ambas as possibilidades. Como vantagens do múltiplo, assinalo: para o artista, maior divulgação e rentabilidade; para o comprador, uma aquisição autenticada e de bom nível a preço mais acessível.
Zorávia – Como acho que no fim do século XX a arte deve, por todos os meios possíveis, atingir o maior número de pessoas, sou a favor do múltiplo e da tiragem, quando feitos com critério e qualidade. Acho que a escola, o museu, o ateliê, a galeria, a televisão, o cinema, o livro, a revista, o jornal, etc, são meios valiosos de divulgar as artes plásticas, quando dirigidos por profissionais competentes. É importante também o monumento, o mural, a peça única, enfim, em praça e edifícios públicos ou particulares.
De que maneira prefere comercializar a sua obra?
Alice – Através de galerias e marchands.
Petrucci – Nos últimos anos tenho feito isso diretamente com o comprador. Não é o ideal, mas a minha obra atual é numericamente pequena por serem os quadros muito trabalhados; raramente tenho quadros disponíveis para serem vendidos em galerias.
Beth – Sendo o ato de criação, que muitas vezes resulta em “obra”, uma das mais importantes manifestações humanas, não me agrada o caráter comercial de que está revestido; pertencendo à área da emoção, da sensibilidade, do pensamento, de toda uma postura do ser humano diante da vida, uma manifestação de humanidade (mesmo que intelectualizada), não pode ser arrolada no terreno puro e simples do comércio. No entanto, tenho de reconhecer, numa ponderação lógica, que vivemos numa sociedade que valoriza todo o trabalho em termos de comércio e portanto tudo deve ter seu valor comercial. Apenas me limito a aceitar o fato como contingência inevitável. Existe um valor comercial para o meu trabalho. Procuro, no entanto, preservar minha liberdade de aceitar ou não as decorrências deste fato no momento oportuno.
Xico – Eu vendo o meu peixe de qualquer maneira, mas prefiro me manter afastado disso. Prefiro que as galerias tratem do assunto. Ganha-se menos, é certo, mas eu prefiro assim.
Guma – Divulgando meus trabalhos; a obra fica conhecida e automaticamente comercializada. Prefiro vender em meu próprio ateliê que já está sendo bastante procurado pelos colecionadores.
Ilsa – Francamente não sei o que responder, talvez porque não tenha havido nenhuma preocupação de minha parte a respeito deste assunto.
Moura – Ainda prefiro as galerias porque é o meio mais adequado de maior número de pessoas apreciarem o trabalho, pois não se faz arte só para aqueles que têm condições de comprar arte. Porém, o lado financeiro fica bastante prejudicado porque a galeria cobra uma certa percentagem, o que é muito justo, pois ninguém deve trabalhar de graça. Acrescentando nessa percentagem mais a parte de suporte, mais material, dificilmente o artista recebe 50 % do valor comercial da obra.
Magliani – Gosto do sistema de galerias, desde que o marchand não se intrometa no trabalho do artista e não se exima do seu, ou imponha condições que conflituem com os princípios de cada artista. Eu não saberia comercializar meus trabalhos, não sei lidar com dinheiro, prefiro que o marchand o faça. Ele entende mais do mercado do que eu; mas da minha pintura eu pretendo entender mais do que ele. Não tenho marchand particular, nem creio que algum se interessasse, pois não tenho um mercado muito amplo. Trabalho com as galerias que se interessam pelo meu trabalho e discuto muito quando não concordo com alguma coisa. Gostaria que houvesse mais dinamismo nas galerias e também que os que lidam com arte confiassem mais no trabalho do artista gaúcho e o divulgassem fora do Estado. Atualmente me parece que este trabalho tem que ser feito pelo próprio artista interessado e eu não sei até que ponto é do interesse ou da atribuição do marchand.
Porcella – Sou pintor e não comerciante, portanto a melhor maneira de comercializar a minha obra é aquela que não me envolva no processo.
Plínio – Através de galerias e marchands.
Rose – Preferencialmente por meio de instituições culturais, particularmente e eventualmente por meio de galerias comerciais.
Zorávia – O ideal seria o artista ter um representante, que se encarregasse de divulgar e comercializar seu trabalho nacional e internacionalmente. Mas, infelizmente, isso é uma utopia, pois carecemos de elemento humano para essa função. Sou obrigada, pelas circunstâncias, a divulgar e comercializar meu trabalho com a ajuda de nossas secretárias, por meio de meu ateliê.