SITIAÇÕES
Adolfo Montejo Navas
Cada vitrine efêmera costuma ser um acerto de contas entre os espaços, os objetos, as recepções... e, portanto, uma provocação estética que obriga a acertar os ponteiros conceituais, perceptivos das propostas, sempre na direção pública que o trânsito da rua dilata, amplia como última instância; ainda mais quando coincidem registros artísticos diferentes que dialogam, pontos convergentes para uma equação não unívoca.
Assim, Celina Almeida Neves propõe uma aventura a quatro bandas cujo maior desafio de equilíbrio é respirar seu lado prismático, os vários territórios desdobrados como nomenclatura da obra: maquete, instalação, site specific, poema visual... Não em vão, o título escolhido pela artista é uma alquimia de sítio e ação, um neologismo que re-nomeia as coordenadas espaço temporais (sítio, ação, situação, sitiação), sua dialética de imagem pulsante, viva, a favor de outro imaginário mais livre. A integração do signo icônico do homem kafkiano que somos e sua linha de fuga com o espaço da vitrine é outro lugar expandido, que articula e dá forma ao território que rodeia o signo.
3 resulta em parte num trabalho pós-minimalista, pela configuração espacial criada pela iluminação, ainda que as diversas luzes convocadas e contaminadas de mundo subvertam esta condição - além da própria luz da vitrine, soma-se à luz da rua refletida luminicamente e do objeto luminoso nela inserido. Por outro lado, trata-se de uma obra site specific que joga com a escala do espaço - a vitrine ecoada em 20%, 15% e 10% de seu tamanho, como caixas-maquetes em estado de ressonância -, uma peça escultórica de pequeno formato cuja iconografia matriz gera outro código de comunicação poética.
O homem saído da comunicação visual, da simbólica rota de fuga (exit) tem se convertido aqui num emancipado poema gráfico, genuinamente visual, incluso de historicidade dramática, deixando longe a assexuada simbologia de uso convencional. O homem que foge correndo do perigo das circunstâncias, também é, precisamente, uma paráfrase de São Sebastião de coração flechado. Outra placa que relata o cerco, o sítio de nossa situação funcional, outra situação-sitiação.
Sitiação (0+1) fala, em consequência, de um espaço interno e de outro externo, ao mesmo tempo, reverberando duas cosmologias em conexão, em aproximação alegórica, que acabam rebatendo não só no universo cotidiano, diário, em nosso trânsito e passagem, quanto nas questões atávicas da condição humana quando ela se digna perguntar simbolicamente pelo seu lugar e a razão de seu movimento. À procura de certa incandescência - tão vinculada à luz lírica, especular - de Sitiação (0+1) encontra-se todavia nesse homem ícone - em sua metáforica escala - que foge de certa topologia ambiental cristalizada, do perigo ameaçador, declarado pelo mundo mais pacificado em seus sinais, e também foge de si mesmo, enclausurado em suas pequenas janelas.
Adolfo Montejo Navas
Cada vitrine efêmera costuma ser um acerto de contas entre os espaços, os objetos, as recepções... e, portanto, uma provocação estética que obriga a acertar os ponteiros conceituais, perceptivos das propostas, sempre na direção pública que o trânsito da rua dilata, amplia como última instância; ainda mais quando coincidem registros artísticos diferentes que dialogam, pontos convergentes para uma equação não unívoca.
Assim, Celina Almeida Neves propõe uma aventura a quatro bandas cujo maior desafio de equilíbrio é respirar seu lado prismático, os vários territórios desdobrados como nomenclatura da obra: maquete, instalação, site specific, poema visual... Não em vão, o título escolhido pela artista é uma alquimia de sítio e ação, um neologismo que re-nomeia as coordenadas espaço temporais (sítio, ação, situação, sitiação), sua dialética de imagem pulsante, viva, a favor de outro imaginário mais livre. A integração do signo icônico do homem kafkiano que somos e sua linha de fuga com o espaço da vitrine é outro lugar expandido, que articula e dá forma ao território que rodeia o signo.
3 resulta em parte num trabalho pós-minimalista, pela configuração espacial criada pela iluminação, ainda que as diversas luzes convocadas e contaminadas de mundo subvertam esta condição - além da própria luz da vitrine, soma-se à luz da rua refletida luminicamente e do objeto luminoso nela inserido. Por outro lado, trata-se de uma obra site specific que joga com a escala do espaço - a vitrine ecoada em 20%, 15% e 10% de seu tamanho, como caixas-maquetes em estado de ressonância -, uma peça escultórica de pequeno formato cuja iconografia matriz gera outro código de comunicação poética.
O homem saído da comunicação visual, da simbólica rota de fuga (exit) tem se convertido aqui num emancipado poema gráfico, genuinamente visual, incluso de historicidade dramática, deixando longe a assexuada simbologia de uso convencional. O homem que foge correndo do perigo das circunstâncias, também é, precisamente, uma paráfrase de São Sebastião de coração flechado. Outra placa que relata o cerco, o sítio de nossa situação funcional, outra situação-sitiação.
Sitiação (0+1) fala, em consequência, de um espaço interno e de outro externo, ao mesmo tempo, reverberando duas cosmologias em conexão, em aproximação alegórica, que acabam rebatendo não só no universo cotidiano, diário, em nosso trânsito e passagem, quanto nas questões atávicas da condição humana quando ela se digna perguntar simbolicamente pelo seu lugar e a razão de seu movimento. À procura de certa incandescência - tão vinculada à luz lírica, especular - de Sitiação (0+1) encontra-se todavia nesse homem ícone - em sua metáforica escala - que foge de certa topologia ambiental cristalizada, do perigo ameaçador, declarado pelo mundo mais pacificado em seus sinais, e também foge de si mesmo, enclausurado em suas pequenas janelas.