Iniciamos no mês de março de 2022 a entrevistar as mulheres, artistas ou não, que de alguma forma fizeram parte das ações realizadas pelo Estudio Dezenove ao longo de sua trajetória. O mês que comemora o Dia Internacional da Mulher foi o nosso ponto de partida para buscar resgatar a intensa participação da ala feminina na construção desse território que chamamos de Estudio Dezenove. Não foram poucas as adesões e colaborações em quase 30 anos de existência e resistência na cena cultural no Rio de Janeiro. Como o mês de março se tornou insuficiente diante de tantas histórias a contar decidimos estender nossas publicações ao longo do ano.
Nossa quarta convidada é Teresinha Castello Ribeiro.
Teresinha nasceu no Rio de Janeiro em 1946 e sua atividade profissional foi toda voltada para Documentação & Informação. Graduada em 1972 pela Universidade Santa Úrsula (USU), fez carreira no Instituto de Resseguros do Brasil. De estagiária à coordenação da Biblioteca de Seguros, somando com o mercado nacional e internacional. Entre inúmeros cursos, conferências, congressos, em destaque o curso de extensão universitária do Instituto de Documentação da FGV e a participação no Mercosul como representante de sua área profissional. Em 1998 iniciou o projeto da Casa Amarela. A partir de então, investiu seu tempo nessa nova atividade. Procurou contribuir da melhor forma, promovendo e produzindo exposições, palestras, lançamentos de livros e periódicos, festivais de animação, entre outros. |
Entrevista com Sergio Viveiros / agosto de 2022
1) A Casa Amarela é um misto de ateliês de artistas e espaço expositivo, criado e mantido por você em Santa Teresa, um bairro carioca emblemático das artes. Quais as lições aprendidas após todos esses anos?
Teresinha: Segundo um amigo, “a Casa Amarela é um sonho que acolhe outros sonhos”. Ao longo do tempo criou-se uma trama enriquecedora de troca de experiências profissionais e pessoais, formaram-se amizades, compartilhando múltiplas visões de arte. Chegamos em Santa Teresa em 1998 com esse propósito que vem se desenhando cada dia com traços mais fortes.
2) No contexto do evento Arte de Portas Abertas e mesmo para além dele, qual o saldo da sua experiência em relacionar-se com o Estudio Dezenove?
Teresinha: O melhor possível. Desde que comecei a frequentar o Arte de Portas Abertas, o Estudio Dezenove sempre me chamou a atenção. Abraça com competência e seriedade o seu ofício. É um espaço que promove o encontro de profissionais de várias gerações e tendências. É também um importante ponto de convergência e memória da arte brasileira e de outros países. É ainda um porto seguro de resistência, levando a arte contemporânea para além de Santa Teresa. Conviver com vocês tem sido um grande aprendizado. A arte passou a fazer parte da minha vida.
3) Você possui sensibilidade para identificar projetos no campo da arte que vem a dar frutos, como a iniciativa da Casa Amarela, apesar de não ser uma artista. Como isso se desenvolveu?
Teresinha: Primeiro, vencendo barreiras. Pelo fato de não ser artista, muitos me dissuadiram: “—Não é o seu universo.” Não sabiam que eu acalentava esse sonho desde os anos setenta. Depois, a pesquisa de mais de um ano para encontrar o local ideal. Só podia ser em Santa Teresa. Etapa resolvida, a Casa Amarela iniciou a sua participação na corrente cultural do bairro no Arte de Portas Abertas. Gradualmente, comecei um trabalho pessoal de educação do olhar apurando minha sensibilidade. Nessa fase, a orientação do meu filho Bruno e conversas com amigos artistas foram fundamentais.
4) Ao longo do tempo, você acompanhou a trajetória do empoderamento feminino. Por exemplo, antigamente, os cardápios destinados às senhoras nos restaurantes vinham sem os preços, que constavam apenas naqueles destinados aos homens, provedores do lar. Coisa impensável atualmente. Como você vê o futuro das mulheres?
Teresinha: A mudança de comportamento em relação ao papel da mulher na sociedade vem mudando. As conquistas, embora lentas, são visíveis. No contexto brasileiro, com uma formação machista bem acentuada, desatar os nós é difícil mas não impossível. Acredito num futuro em que o diálogo possa construir um caminho de respeito mútuo. Os gêneros se complementam. A igualdade é um direito inalienável de todos.
1) A Casa Amarela é um misto de ateliês de artistas e espaço expositivo, criado e mantido por você em Santa Teresa, um bairro carioca emblemático das artes. Quais as lições aprendidas após todos esses anos?
Teresinha: Segundo um amigo, “a Casa Amarela é um sonho que acolhe outros sonhos”. Ao longo do tempo criou-se uma trama enriquecedora de troca de experiências profissionais e pessoais, formaram-se amizades, compartilhando múltiplas visões de arte. Chegamos em Santa Teresa em 1998 com esse propósito que vem se desenhando cada dia com traços mais fortes.
2) No contexto do evento Arte de Portas Abertas e mesmo para além dele, qual o saldo da sua experiência em relacionar-se com o Estudio Dezenove?
Teresinha: O melhor possível. Desde que comecei a frequentar o Arte de Portas Abertas, o Estudio Dezenove sempre me chamou a atenção. Abraça com competência e seriedade o seu ofício. É um espaço que promove o encontro de profissionais de várias gerações e tendências. É também um importante ponto de convergência e memória da arte brasileira e de outros países. É ainda um porto seguro de resistência, levando a arte contemporânea para além de Santa Teresa. Conviver com vocês tem sido um grande aprendizado. A arte passou a fazer parte da minha vida.
3) Você possui sensibilidade para identificar projetos no campo da arte que vem a dar frutos, como a iniciativa da Casa Amarela, apesar de não ser uma artista. Como isso se desenvolveu?
Teresinha: Primeiro, vencendo barreiras. Pelo fato de não ser artista, muitos me dissuadiram: “—Não é o seu universo.” Não sabiam que eu acalentava esse sonho desde os anos setenta. Depois, a pesquisa de mais de um ano para encontrar o local ideal. Só podia ser em Santa Teresa. Etapa resolvida, a Casa Amarela iniciou a sua participação na corrente cultural do bairro no Arte de Portas Abertas. Gradualmente, comecei um trabalho pessoal de educação do olhar apurando minha sensibilidade. Nessa fase, a orientação do meu filho Bruno e conversas com amigos artistas foram fundamentais.
4) Ao longo do tempo, você acompanhou a trajetória do empoderamento feminino. Por exemplo, antigamente, os cardápios destinados às senhoras nos restaurantes vinham sem os preços, que constavam apenas naqueles destinados aos homens, provedores do lar. Coisa impensável atualmente. Como você vê o futuro das mulheres?
Teresinha: A mudança de comportamento em relação ao papel da mulher na sociedade vem mudando. As conquistas, embora lentas, são visíveis. No contexto brasileiro, com uma formação machista bem acentuada, desatar os nós é difícil mas não impossível. Acredito num futuro em que o diálogo possa construir um caminho de respeito mútuo. Os gêneros se complementam. A igualdade é um direito inalienável de todos.
Performance de Airá Ocrespo na Casa Amarela durante o Circuito Oriente / setembro de 2019
Nossa terceira convidada é Maria Tomás, artista que vive e trabalha em Lisboa e é licenciada em Pintura pela Universidade Clássica de Lisboa. Desenvolve seu trabalho nas áreas da Pintura, Gravura em metal, Litografia, Desenho, Instalação e Land art. Em sua trajetória tem vindo a estudar e explorar as matérias e técnicas inerentes ao fazer de cada objeto estético, enfatizando as temáticas do fragmentário e sua multiplicidade de sentidos, com referências, por vezes explícitas, a Leibniz e à Filosofia da linguagem. |
Foto Maria Tomás por Luiz Carvalho Photo - abril 2021
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Maria Tomás
Entrevista com Julio Castro / abril de 2022
1. Maria, você conheceu o Estudio Dezenove em 1998 quando foi convidada juntamente com outros artistas portugueses a participar do evento coletivo Arte de Portas Abertas no bairro de Santa Teresa, logo em seu início. Naquele mês de maio também inaugurávamos a vitrine no Estudio Dezenove e você viu de perto esse duplo nascedouro. Que memórias você tem dessa ocasião? O seu contato com o Rio e com o Brasil de algum modo teve referências na sua produção posterior?
MT: Ó como me lembro bem! Sim, foi uma estadia muitíssimo interessante e estimulante, tanto do ponto de vista humano como artístico. Tive o privilégio de ser muito bem recebida pelo grupo de artistas do Estúdio Dezenove, principalmente pelo meu querido colega Julio Castro de quem me mantenho amiga ainda hoje. O Festival Arte de Portas Abertas estava numa fase muito ativa e na realidade foi um deslumbre poder participar nos encontros, exposições, debates e conversas com colegas que abriam os seus ateliers para mostrar as suas obras, assim como também suscitavam a conversa como centro e suporte das suas pesquisas e interesses plásticos. Isso em Portugal ainda não existia (continua não existindo…), portanto, a minha estadia em Santa Teresa foi realmente uma experiência de vida marcante tanto pela energia cultural como pela leveza inteligente na abordagem dos temas que nos unem.
2. Se possível poderia fazer um paralelo do seu trabalho atual em relação ao que você produzia naquela época do século passado?
MT: Bem… fazer um paralelo, não é possível porque as minhas pesquisas teóricas e plásticas mantém-se (por enquanto) centradas em conceitos que felizmente, são Universais. O trabalho na Gravura, Pintura, Desenho e Instalações que tenho realizado, tem como suporte eidético , os conceitos de “valor”, “prazer” e “práxis”, que neste momento tremem, dada a conjuntura de pré-guerra que vivemos...
No entanto, tenho de referir que encontrei muita matéria de reflexão e análise, após a minha segunda estadia em Santa Teresa, em que tive mais tempo e condições de trabalho excelentes, tanto no Estúdio DZ9, como em casa da Ana Prado .Tive também o privilégio de conhecer e fazer uma boa amizade com Magliani, mulher artista de alma grande e humor inteligente.
Percebi, também que a luta social dos artistas aí é caso muito sério. Encontrei uma sociedade muito estratificada, em que as galerias e curadores já se tinha imposto e seguido as práticas neo-liberais. A liberdade individual do artista muito mais controlada...
3. O seu contato com a produção de arte brasileira foi relevante? Quais as diferenças que você apontaria entre o universo artístico português e o brasileiro?
MT: Ah! Julio Castro querido, são dimensões incomparáveis, como você sabe. Portugal mantém-se um país fechado, pequeno e pobre, enquanto que o que conheci no Rio de Janeiro, em Inhotim, levada por si em boa hora, foi uma Arte pujante e liberta. Os artistas e seus trabalhos. que tive o privilégio de conhecer, tem consciência social e política do seu trabalho. Sabem ser intelectuais de pés bem assentes no chão!
Você quer saber uma coisa? Ainda hoje, em Portugal, há um preconceito com a palavra “intelectual”… ! Se alguém se assume como tal, não é bem aceite.
4. Vivemos um movimento de emponderamento feminino em vários aspectos. Como você vê esse universo, seu imaginário reivindicatório e luta? Qual o lugar da mulher na sociedade portuguesa hoje?
MT: Não estou nem aí! Com todo o meu respeito pelos primeiros movimentos Sufragistas, considero que este “excesso” de feminismo sem ideologia pode ser perigoso. O que relevo desta situação é a mulher a desejar únicamente ter o poder, isso não me parece saudável para a sociedade que desejo igualitária.
5. Sou natural da cidade brasileira de Porto Alegre, uma cidade fundada por açorianos. Você é açoriana de nascimento e sei que idealizou um projeto denominado Insulamento, numa antiga base norte americana abandonada nos Açores. Quais as perspectivas dessa sua iniciativa e a que ele se propõe? Onde os Açores habitam em você?
MT: Como açoriana a viver desde os meus 11 anos em Lisboa, o meu olhar e sentir é, sem dúvida de amor pela terra maravilhosa que marca o meu imaginário. Presentemente, e no que diz respeito às Artes Plásticas, parece que os Açorianos despertaram para a sua riqueza imaterial e estão a surgir polos culturais muitíssimo interessantes.
Quanto ao meu projeto de Land Art “Insulamento”, em 2014 foi editado um livro sobre todo o processo e luta para mantê-lo vivo. Neste momento trabalho para executar uma série de monotipias, em que uso como matriz algumas chapas corroídas que lhe pertenceram; assim como, paralelamente, preparo uma exposição imersiva onde o fruidor poderá ver, viver e sentir o seu interior e a derrocada final. A ver vamos se consigo obter verbas para tamanha tarefa.
6. Projetos futuros?
MT: Na resposta anterior já me referi a parte do meu trabalho futuro a médio prazo. Para breve, trabalho agora uma série de desenhos que irei expor em Setembro deste ano na Casa Museu Vieira da Silva. Tem sido um trabalho fascinante que comecei a desenvolver em plena pandemia e agora as questões ligadas à guerra da Ucrania e os migrantes, fugidos da guerra, começaram a estar todos os dias no meu atelier. Impossível não estarem presentes o casal Arpad Szenes / Vieira da Silva que habitaram a Casa quando foram viver como apátridas para Santa Teresa, em situação idêntica a tantos seres humanos que hoje sofrem situações inenarráveis.
Estou a gostar do que faço e agradeço, Júlio Castro esta fantática oportunidade que me dás para falar um pouquinho sobre mim, o trabalho e a nossa amizade.
Entrevista com Julio Castro / abril de 2022
1. Maria, você conheceu o Estudio Dezenove em 1998 quando foi convidada juntamente com outros artistas portugueses a participar do evento coletivo Arte de Portas Abertas no bairro de Santa Teresa, logo em seu início. Naquele mês de maio também inaugurávamos a vitrine no Estudio Dezenove e você viu de perto esse duplo nascedouro. Que memórias você tem dessa ocasião? O seu contato com o Rio e com o Brasil de algum modo teve referências na sua produção posterior?
MT: Ó como me lembro bem! Sim, foi uma estadia muitíssimo interessante e estimulante, tanto do ponto de vista humano como artístico. Tive o privilégio de ser muito bem recebida pelo grupo de artistas do Estúdio Dezenove, principalmente pelo meu querido colega Julio Castro de quem me mantenho amiga ainda hoje. O Festival Arte de Portas Abertas estava numa fase muito ativa e na realidade foi um deslumbre poder participar nos encontros, exposições, debates e conversas com colegas que abriam os seus ateliers para mostrar as suas obras, assim como também suscitavam a conversa como centro e suporte das suas pesquisas e interesses plásticos. Isso em Portugal ainda não existia (continua não existindo…), portanto, a minha estadia em Santa Teresa foi realmente uma experiência de vida marcante tanto pela energia cultural como pela leveza inteligente na abordagem dos temas que nos unem.
2. Se possível poderia fazer um paralelo do seu trabalho atual em relação ao que você produzia naquela época do século passado?
MT: Bem… fazer um paralelo, não é possível porque as minhas pesquisas teóricas e plásticas mantém-se (por enquanto) centradas em conceitos que felizmente, são Universais. O trabalho na Gravura, Pintura, Desenho e Instalações que tenho realizado, tem como suporte eidético , os conceitos de “valor”, “prazer” e “práxis”, que neste momento tremem, dada a conjuntura de pré-guerra que vivemos...
No entanto, tenho de referir que encontrei muita matéria de reflexão e análise, após a minha segunda estadia em Santa Teresa, em que tive mais tempo e condições de trabalho excelentes, tanto no Estúdio DZ9, como em casa da Ana Prado .Tive também o privilégio de conhecer e fazer uma boa amizade com Magliani, mulher artista de alma grande e humor inteligente.
Percebi, também que a luta social dos artistas aí é caso muito sério. Encontrei uma sociedade muito estratificada, em que as galerias e curadores já se tinha imposto e seguido as práticas neo-liberais. A liberdade individual do artista muito mais controlada...
3. O seu contato com a produção de arte brasileira foi relevante? Quais as diferenças que você apontaria entre o universo artístico português e o brasileiro?
MT: Ah! Julio Castro querido, são dimensões incomparáveis, como você sabe. Portugal mantém-se um país fechado, pequeno e pobre, enquanto que o que conheci no Rio de Janeiro, em Inhotim, levada por si em boa hora, foi uma Arte pujante e liberta. Os artistas e seus trabalhos. que tive o privilégio de conhecer, tem consciência social e política do seu trabalho. Sabem ser intelectuais de pés bem assentes no chão!
Você quer saber uma coisa? Ainda hoje, em Portugal, há um preconceito com a palavra “intelectual”… ! Se alguém se assume como tal, não é bem aceite.
4. Vivemos um movimento de emponderamento feminino em vários aspectos. Como você vê esse universo, seu imaginário reivindicatório e luta? Qual o lugar da mulher na sociedade portuguesa hoje?
MT: Não estou nem aí! Com todo o meu respeito pelos primeiros movimentos Sufragistas, considero que este “excesso” de feminismo sem ideologia pode ser perigoso. O que relevo desta situação é a mulher a desejar únicamente ter o poder, isso não me parece saudável para a sociedade que desejo igualitária.
5. Sou natural da cidade brasileira de Porto Alegre, uma cidade fundada por açorianos. Você é açoriana de nascimento e sei que idealizou um projeto denominado Insulamento, numa antiga base norte americana abandonada nos Açores. Quais as perspectivas dessa sua iniciativa e a que ele se propõe? Onde os Açores habitam em você?
MT: Como açoriana a viver desde os meus 11 anos em Lisboa, o meu olhar e sentir é, sem dúvida de amor pela terra maravilhosa que marca o meu imaginário. Presentemente, e no que diz respeito às Artes Plásticas, parece que os Açorianos despertaram para a sua riqueza imaterial e estão a surgir polos culturais muitíssimo interessantes.
Quanto ao meu projeto de Land Art “Insulamento”, em 2014 foi editado um livro sobre todo o processo e luta para mantê-lo vivo. Neste momento trabalho para executar uma série de monotipias, em que uso como matriz algumas chapas corroídas que lhe pertenceram; assim como, paralelamente, preparo uma exposição imersiva onde o fruidor poderá ver, viver e sentir o seu interior e a derrocada final. A ver vamos se consigo obter verbas para tamanha tarefa.
6. Projetos futuros?
MT: Na resposta anterior já me referi a parte do meu trabalho futuro a médio prazo. Para breve, trabalho agora uma série de desenhos que irei expor em Setembro deste ano na Casa Museu Vieira da Silva. Tem sido um trabalho fascinante que comecei a desenvolver em plena pandemia e agora as questões ligadas à guerra da Ucrania e os migrantes, fugidos da guerra, começaram a estar todos os dias no meu atelier. Impossível não estarem presentes o casal Arpad Szenes / Vieira da Silva que habitaram a Casa quando foram viver como apátridas para Santa Teresa, em situação idêntica a tantos seres humanos que hoje sofrem situações inenarráveis.
Estou a gostar do que faço e agradeço, Júlio Castro esta fantática oportunidade que me dás para falar um pouquinho sobre mim, o trabalho e a nossa amizade.
Série Emergir
Casa dos Gessos do Museu Militar de Lisboa - 2013/2018 Instalação de granulado de reciclagem de pneus e pelouros. |
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Vídeo Aventuras do Espírito Teresa Tomé |
Paula Erber é a nossa segunda entrevistada. Nasceu no Rio de Janeiro em 1971 e tem formação em arte pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage e MAM/RJ com licenciatura pelo Instituto Metodista Bennett (RJ), pós graduação em design de jóias pela PUC/RJ e formação em joalheria na ArCo, Lisboa. Desde 2014 vive e trabalha em Lisboa. Paula se interessa pelo labor e artesania. Sua expressão está na poética do cotidiano, um fazer sem pressa, onde exista a possibilidade de contemplação e encontro com o onírico. A produção da artista é diversificada. Gravuras e diferentes recursos de fotografia artesanal: pinhole, cianotipia e fotogramas, além de joias autorais. |
Entrevista concedida a Julio Castro em 17/03/2022
1. Como foi a sua experiência de ter trabalhado no Estudio Dezenove tempos atrás?
A experiência de trabalhar em um atelier coletivo me proporcionou uma troca intensa de saberes e técnicas através da convivência com os colegas. Me aprofundei na pesquisa sobre gravura e suas múltiplas possibilidades. No Estudio Dezenove me profissionalizei como artista e arte educadora.
2. Naqueles anos você participou de várias iniciativas e projetos do Estudio Dezenove e mesmo do nascedouro e popularização do evento Arte de Portas Abertas. O que foi para você essa experiência?
Santa Teresa é o bairro que escolhi para viver. A participação no Arte de Portas Abertas e Projeto Jovens Aprendizes me trouxe um sentimento de integração e participação no bairro. A arte como ferramenta de transformação social: seja ao abrir as portas de seu atelier em combate e reação a violência, seja através de um excelente trabalho de arte educação com os adolescentes das comunidades do bairro. As iniciativas do Estudio Dezenove e a produção coletiva de eventos no atelier, me proporcionaram uma experiência, que me permitiu produzir minhas próprias exposições e eventos.
3. Como você vê o seu trabalho atualmente em relação ao que você produzia naquela época?
Eu continuo fazendo gravura, vejo meu trabalho como um desdobramento do que eu já fazia naquela época, mais maduro. Alguns trabalhos da exposição Trilha Sonora, atualmente na Casa de Bocage em Setubal, estão presentes na 4ºedição de Gravura em Revista
https://issuu.com/angelarolim-yahoo/docs/projeto_impresso_gravura_em_revista_novembro
4.Estamos no mês que comemora o Dia Internacional da Mulher e vivemos um movimento de emponderamento feminino em vários aspectos. Como você vê esse universo, seu imaginário reivindicatório e luta hoje? Você mora em Portugal há alguns anos, como é o papel da mulher na sociedade portuguesa?
O machismo é uma questão mundial. Em Portugal existe um estereótipo sexualizado da mulher brasileira e africana. As mulheres estão na luta. O grande desafio hoje é usar a linguagem do afeto em oposição ao ódio e preconceito.
As ações afirmativas que pratico aparecem na escolha do tema, na inspiração, e na própria obra. As minhas escolhas, conscientes e inconscientes, refletem aquilo que expresso no meu trabalho.
Procuro usar o humor nas minhas críticas e ações afirmativas. A série de cianotipias “Guerreira” com frases de banheiro feminino e dos muros; músicas que serviram de inspiração para a exposição Trilha Sonora, são alguns exemplos.
No âmbito do mês da mulher, dia 26 de março farei a mediação da Conversa Sonora, com Mariana Portela, Miracelia Fragoso, Rita Cassia Silva, Sofia Costa, Tatiana Cobbett, sobre sua experiência profissional e relação com a música e a palavra.
5.Nos conhecemos na Oficina de Gravura do MAM/RJ, você então produzia gravura em metal e trabalhamos juntos também no Estudio Dezenove quando você passou a se dedicar a outras atividades, como a fotografia pin holee na sequência à joalheria. Como você vê hoje esses desdobramentos em seu trabalho?
As experiências com outras técnicas: fotografia artesanal e joalheria estão intimamente ligadas a gravura.
A fotografia pinhole e a cianotipia, trabalham com a inversão. Podemos pensar também o negativo e transparência como uma “matriz”. Existe a possibilidade de reprodução.
A gravura em metal nasceu através da joalheria. São muitas ferramentas e processos em comum.
Todas as técnicas são laboriosas.
Minhas cianotipias parecem gravuras. Já fiz algumas gravuras em prata, cujas matrizes, depois de impressas viraram joias.
Estes desdobramentos dialogam entre si, e enriquecem o meu trabalho. Atualmente a música tem sido inspiração e fusão das diferentes técnicas.
A exposição Trilha Sonora está aberta ao público até 16 de abril na Casa de Bocage, Setúbal, Portugal.
Ivana Curi, nossa primeira entrevistada, nasceu em Minas Gerais viveu no Rio e reside hoje em Nuremberg, Alemanha. Filha do artista Ivon Curi, Ivana carrega uma marca inegável do pai: a versatilidade artística e liberdade de transitar facilmente por diversas formas de expressão na arte. Graduou-se em Programação Visual e Projeto de Produto na Faculdade da Cidade (RJ) e fez cursos de modelagem de roupas, escultura, desenho de jóias e cenografia. Mas reconhece que a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, que frequentou com assiduidade, é o berço da sua veia criativa, assim como os bastidores da moda carioca, em que atuou por 15 anos.
É nitidamente influenciada por grandes artistas que colaboraram para sua evolução profissional e acadêmica - Guilherme Guimarães, Giorgio Knapp, Caio Mourão, Celeida Tostes e Ana Maria Maiolino. O trabalho tridimensional é a base para suas peças e intervenções que se utilizam de materiais genéricos e ordinários para trazer o extraordinário e único. |
Entrevista concedida a Julio Castro - 02/03/2022
1- Ivana, como foi a sua experiência de ter trabalhado no Estudio Dezenove tempos atrás?
O Estudio Dezenove foi minha primeira experiência coletiva de atelier. Muito rica e diversificada, caminhamos juntos fazendo exposições, eventos, reformas no espaço e tudo mais que estivesse ao alcance. Muita amizade, diversão e confiança também, um período de grande aprendizado e troca.
2- Naqueles anos você participou de várias iniciativas e projetos do Estudio Dezenove e mesmo do nascedouro e popularização do evento Arte de Portas Abertas. O que foi para você essa experiência?
Experiência desafiadora onde a criação de eventos foi vivida com discussões amplas, curadorias sérias, estudo logístico e toda gama de dificuldades que um evento de grande porte demanda. Os eventos trouxeram uma grande interface com o público, parcerias duradouras e reconhecimento da mídia em geral. O retorno sempre prazeroso e divertido.
3 – Como você vê o seu trabalho atualmente em relação ao que você produzia naquela época?
Atualmente resido na Alemanha e participo também de um coletivo de arte dividindo atelier com mais 5 artistas ativos em áreas distintas da minha. A língua ainda dificulta um pouco a interação com o coletivo, o inglês por hora substitui o alemão. Há muitos movimentos dentro do grande coletivo da casa que compreende diretoria, contabilidade, grêmios e eventos da casa e outros para integração do bairro no entorno. Estou me integrando lentamente aos movimentos locais, mas já participei do Gastspiel * um arte de portas abertas local, quando obtive um retorno bastante acolhedor dos visitantes e do jornal local.
4 – Estamos no mês que comemora o Dia Internacional da Mulher e vivemos um movimento de emponderamento feminino em vários aspectos. Como você vê esse universo, seu imaginário reivindicatório e luta hoje? Você mora na Alemanha há alguns anos, como é o papel da mulher na sociedade alemã?
Meus trabalhos recentes resumem de forma óbvia e sucinta minha crítica. Minha profunda insatisfação com o discurso velho e capenga do universo construído pelos homens brancos dominantes. Creio haver mais espaço aqui para discussão e principalmente um grande interesse no debate começando sempre por pequenos grupos de qualquer área. Existe uma maior autonomia para iniciar movimentos, discussões coletivas, campanhas e todo movimento nesta direção. Há sempre apoio estrutural, e respeito pelas pautas e opiniões. O universo feminino aqui também tem sua luta, mas vejo grande respeito e entendimento na busca dessa equanimidade. O parlamento alemão compreende como fundamental esse equilíbrio e isso é uma grande conquista.
5- Projetos Futuros?
Em maio estarei por 15 dias expondo no novo espaço de cultura da prefeitura de Furth. O projeto em curso é sobre os refugiados em parceria com a ONG NAOMI que atende os refugiados no Campo de Thessalonik na Grécia. Usei os cobertores que acolhem os refugiados em sua chegada para fazer "tijolos" - blocos simbólicos - e construir um muro referenciando nos muitos muros que se constroem atualmente impedindo o livre trânsito daqueles que fogem da guerra e de outras misérias . A intenção é que a aquisição dos blocos pelos visitantes " desconstrua" o muro.
Este projeto ARTE de INCLUSÃO foi elaborado a partir dos cobertores que abraçam os refugiados em sua chegada a novas terras, confeccionados na pequena fábrica montada para a capacitação dos refugiados em Thessalonik na Grécia.
É um projeto que tem como objetivo dar mais visibilidade aos refugiados e outros povos que hoje em dia encontram muros por todas as partes impedindo seu livre acesso em busca de uma vida digna, pacífica e livre das crueldades da guerra da fome e do desrespeito aos direitos humanos.
Este MANIFESTO - ARTE tem como finalidade DESMONTAR OS MUROS através do gesto colaborativo de cada um, removendo os blocos e desconstruindo as barreiras entre os povos nos conscientizamos de que estamos todos no mesmo barco.
Cada bloco representa uma pessoa, uma criança ou adulto, homem ou mulher preso em condições precárias , ceifados dos seus direitos mais fundamentais.
DESFAÇA OS MUROS. Os tijolos ou blocos não possuem valor fixo, podem ser adquiridos pelo valor que se deseja empenhar nesta ação interativa, neste gesto para que os muros possam ser desfeitos.
1- Ivana, como foi a sua experiência de ter trabalhado no Estudio Dezenove tempos atrás?
O Estudio Dezenove foi minha primeira experiência coletiva de atelier. Muito rica e diversificada, caminhamos juntos fazendo exposições, eventos, reformas no espaço e tudo mais que estivesse ao alcance. Muita amizade, diversão e confiança também, um período de grande aprendizado e troca.
2- Naqueles anos você participou de várias iniciativas e projetos do Estudio Dezenove e mesmo do nascedouro e popularização do evento Arte de Portas Abertas. O que foi para você essa experiência?
Experiência desafiadora onde a criação de eventos foi vivida com discussões amplas, curadorias sérias, estudo logístico e toda gama de dificuldades que um evento de grande porte demanda. Os eventos trouxeram uma grande interface com o público, parcerias duradouras e reconhecimento da mídia em geral. O retorno sempre prazeroso e divertido.
3 – Como você vê o seu trabalho atualmente em relação ao que você produzia naquela época?
Atualmente resido na Alemanha e participo também de um coletivo de arte dividindo atelier com mais 5 artistas ativos em áreas distintas da minha. A língua ainda dificulta um pouco a interação com o coletivo, o inglês por hora substitui o alemão. Há muitos movimentos dentro do grande coletivo da casa que compreende diretoria, contabilidade, grêmios e eventos da casa e outros para integração do bairro no entorno. Estou me integrando lentamente aos movimentos locais, mas já participei do Gastspiel * um arte de portas abertas local, quando obtive um retorno bastante acolhedor dos visitantes e do jornal local.
4 – Estamos no mês que comemora o Dia Internacional da Mulher e vivemos um movimento de emponderamento feminino em vários aspectos. Como você vê esse universo, seu imaginário reivindicatório e luta hoje? Você mora na Alemanha há alguns anos, como é o papel da mulher na sociedade alemã?
Meus trabalhos recentes resumem de forma óbvia e sucinta minha crítica. Minha profunda insatisfação com o discurso velho e capenga do universo construído pelos homens brancos dominantes. Creio haver mais espaço aqui para discussão e principalmente um grande interesse no debate começando sempre por pequenos grupos de qualquer área. Existe uma maior autonomia para iniciar movimentos, discussões coletivas, campanhas e todo movimento nesta direção. Há sempre apoio estrutural, e respeito pelas pautas e opiniões. O universo feminino aqui também tem sua luta, mas vejo grande respeito e entendimento na busca dessa equanimidade. O parlamento alemão compreende como fundamental esse equilíbrio e isso é uma grande conquista.
5- Projetos Futuros?
Em maio estarei por 15 dias expondo no novo espaço de cultura da prefeitura de Furth. O projeto em curso é sobre os refugiados em parceria com a ONG NAOMI que atende os refugiados no Campo de Thessalonik na Grécia. Usei os cobertores que acolhem os refugiados em sua chegada para fazer "tijolos" - blocos simbólicos - e construir um muro referenciando nos muitos muros que se constroem atualmente impedindo o livre trânsito daqueles que fogem da guerra e de outras misérias . A intenção é que a aquisição dos blocos pelos visitantes " desconstrua" o muro.
Este projeto ARTE de INCLUSÃO foi elaborado a partir dos cobertores que abraçam os refugiados em sua chegada a novas terras, confeccionados na pequena fábrica montada para a capacitação dos refugiados em Thessalonik na Grécia.
É um projeto que tem como objetivo dar mais visibilidade aos refugiados e outros povos que hoje em dia encontram muros por todas as partes impedindo seu livre acesso em busca de uma vida digna, pacífica e livre das crueldades da guerra da fome e do desrespeito aos direitos humanos.
Este MANIFESTO - ARTE tem como finalidade DESMONTAR OS MUROS através do gesto colaborativo de cada um, removendo os blocos e desconstruindo as barreiras entre os povos nos conscientizamos de que estamos todos no mesmo barco.
Cada bloco representa uma pessoa, uma criança ou adulto, homem ou mulher preso em condições precárias , ceifados dos seus direitos mais fundamentais.
DESFAÇA OS MUROS. Os tijolos ou blocos não possuem valor fixo, podem ser adquiridos pelo valor que se deseja empenhar nesta ação interativa, neste gesto para que os muros possam ser desfeitos.