Claudia Hersz
c'est tout la même chose
agosto de 2011
c'est tout la même chose
agosto de 2011
Funções equivalentes e o mito da serpente
A equivalência forma 1 conteúdo é muitas vezes negligenciada quando deixamos de lado algum dos elementos constitutivos da obra de arte, isto é, não observamos que o resultado advém de todos os fatores de uma equação elaborada que o artista realiza entre o que é visível e o que está por ser visto. Não raro encontramos literaturas equivocadas que fazem crer que um se sobrepõe ao outro.
Neste projeto, c´est tout la même chose, que realiza para o Vitrine Efêmera, Claudia Hersz volta a tecer sua longa mortalha já iniciada e desfeita em projetos anteriores e esclarece que sua odisseia nos traz a premissa de que veremos senão aquilo que já vimos antes (é tudo a mesma coisa). Uma provocação pautada em trabalhos seus como Dama – mulher e seda sobre vinil e Damas – as que cortam e as que brotam.
Ao reformular e reconstituir caminhos que percorreu, entende a artista na síntese de suas ações o enunciado duchampiano étant donnés. Sabe que arte é matemática e, sendo dado que forma 1 conteúdo, toma o que vê ao lado do que pensa.
Decerto não podemos atravessar duas vezes o mesmo rio, não percebemos da mesma maneira o mesmo episódio, não interpretamos um texto sob os mesmos prismas. Estamos em constante mutação com novidades na abordagem que fazemos de aspectos amplos no conhecimento que adquirimos ao longo da vida. Com Claudia não é diferente. A intervenção que faz é arquitetada de modo a servir ao olhar e ao raciocínio um único cenário que se estende para além dos limites da vitrine indo até a calçada à frente num jogo de sedução com o público que movimenta e altera a obra com sua presença fugaz sobre o tapete quadriculado.
Contudo, não deixa escapar em sua lógica proposicional que forma e conteúdo são inseparáveis e que a aparência não é arbitrária.
Suas bonequinhas de porcelana, umas com facas e outras com arbustos na cabeça, estão dispostas em um jogo de damas. Elas nos falam de um confronto iminente. Umas cortam, outras brotam, forças contrárias, antagônicas, porém imprescindíveis umas às outras. Em verdade são a mesma pessoa todas elas, tal e qual encontramos na Cabala o Mito da Serpente em sua essência dualística apoiada nos símbolos da dupla natureza humana. Lembremos que Abel e Caim são tidos naquela doutrina como opostos de uma mesma entidade, tanto quanto a Serpente (tentação) e Jeová (abnegação).
A todo mito temos um rito conjugado. Para Claudia, seu rito final é o que dizia Merleau-Ponty em A dúvida de Cézanne: “o artista não deve apenas criar e exprimir uma ideia deve enraizá-la na consciência dos outros.”
Osvaldo Carvalho
A equivalência forma 1 conteúdo é muitas vezes negligenciada quando deixamos de lado algum dos elementos constitutivos da obra de arte, isto é, não observamos que o resultado advém de todos os fatores de uma equação elaborada que o artista realiza entre o que é visível e o que está por ser visto. Não raro encontramos literaturas equivocadas que fazem crer que um se sobrepõe ao outro.
Neste projeto, c´est tout la même chose, que realiza para o Vitrine Efêmera, Claudia Hersz volta a tecer sua longa mortalha já iniciada e desfeita em projetos anteriores e esclarece que sua odisseia nos traz a premissa de que veremos senão aquilo que já vimos antes (é tudo a mesma coisa). Uma provocação pautada em trabalhos seus como Dama – mulher e seda sobre vinil e Damas – as que cortam e as que brotam.
Ao reformular e reconstituir caminhos que percorreu, entende a artista na síntese de suas ações o enunciado duchampiano étant donnés. Sabe que arte é matemática e, sendo dado que forma 1 conteúdo, toma o que vê ao lado do que pensa.
Decerto não podemos atravessar duas vezes o mesmo rio, não percebemos da mesma maneira o mesmo episódio, não interpretamos um texto sob os mesmos prismas. Estamos em constante mutação com novidades na abordagem que fazemos de aspectos amplos no conhecimento que adquirimos ao longo da vida. Com Claudia não é diferente. A intervenção que faz é arquitetada de modo a servir ao olhar e ao raciocínio um único cenário que se estende para além dos limites da vitrine indo até a calçada à frente num jogo de sedução com o público que movimenta e altera a obra com sua presença fugaz sobre o tapete quadriculado.
Contudo, não deixa escapar em sua lógica proposicional que forma e conteúdo são inseparáveis e que a aparência não é arbitrária.
Suas bonequinhas de porcelana, umas com facas e outras com arbustos na cabeça, estão dispostas em um jogo de damas. Elas nos falam de um confronto iminente. Umas cortam, outras brotam, forças contrárias, antagônicas, porém imprescindíveis umas às outras. Em verdade são a mesma pessoa todas elas, tal e qual encontramos na Cabala o Mito da Serpente em sua essência dualística apoiada nos símbolos da dupla natureza humana. Lembremos que Abel e Caim são tidos naquela doutrina como opostos de uma mesma entidade, tanto quanto a Serpente (tentação) e Jeová (abnegação).
A todo mito temos um rito conjugado. Para Claudia, seu rito final é o que dizia Merleau-Ponty em A dúvida de Cézanne: “o artista não deve apenas criar e exprimir uma ideia deve enraizá-la na consciência dos outros.”
Osvaldo Carvalho