Como ser civilizado Ana Miramar, Bia Martins, Jandir Jr., Max Olivete, Mônica Coster, Nicolas Dantas,, Soda Aw, Victor Saverio Curadoria Beatriz Pimenta 28 de março a 26 de abril de 2015 |
Como ser civilizado é um título sugestivo para representar um conjunto de trabalhos que não se relaciona por formas ou categorias, mas que reflete de diferentes modos o momento conturbado que atravessamos. Tempos em que a irremediável queda da economia neoliberal provoca manifestações sem rumo definido, questões da liberdade sexual suscitam homofobia, escândalos tardios de corrupção dentro das máquinas do Estado denotam a impossibilidade de levar adiante projetos idealizados sem muitos critérios. No dia da abertura dentro da vitrine que tem vista para a rua, Bia Martins convida dois atores para executar uma ação: duas pessoas de mesmo sexo e de cores e corpos diferentes, simultaneamente, chupam um dedo de pontas duplas moldados em chocolate, o prazer do paladar junto à aparência escatológica da performance incomoda, desperta tabus escondidos em baús antigos de nossa cultura. Na sequência, dentro do mesmo espaço, Ana Miramar apresenta uma de suas três videoperformances expostas em uma tevê dentro da galeria, na qual derrama gesso sobre sua própria cabeça que balança negando as posturas que condizem a um ser civilizado, sobre o vidro e as paredes brancas da vitrine, como uma pintura expressionista, fixam-se as marcas desse gesto. Jandir Jr. com suas fotos 3x4 em uma única linha, percorrendo a parede da galeria, e duas telas em branco com manchas de mofo e grafite fala da crise de identidade e do enfraquecimento da imagem como forma de representação. Nicolas Dantas com folhas de jornais pintadas de preto, sobrepostas e pregadas diretamente na parede, nas dimensões de uma pintura mural traduz a inquietação do nosso tempo atual no ocultamento dos fatos, apagamento da memória e falta de sentido das coisas por excesso de informação. Em ideia semelhante usando a curiosidade como estratégia, Mônica Coster solicita que o visitante pegue um DVD sem etiqueta, para em casa poder ver um vídeo que parece representar a falência do jogo da significação. Victor Saverio se apropria de madeiras utilizadas por pescadores para limpeza de peixes da Lagoa de Araruama, com elas faz matrizes para xilogravuras que exibem a insistência de mesmos gestos em um grafismo emocionado, os cortes de peles, carnes e ossos gravados na madeira ou impressos no papel podem significar tanto um modo de vida em extinção, como a atual banalidade com que tratamos da morte. Max Olivete em suportes pintados de forma independente constrói um único painel, impressos de exposições de arte, fragmentos da cultura de massa servem de suporte para a aplicação de diferentes técnicas da pintura, o fazer artesanal diminui o abismo entre os dispositivos tecnológicos e o nosso imaginário afetivo. Em processo inverso ao de Victor Saverio, Soda Aw imprime em argila tubos de pastas de dente e embalagens de medicamentos já utilizados, o material comum a estudos antropológicos de culturas remotas mostra em negativo o que provavelmente vai se transformar no rastro de nossa civilização. Beatriz Pimenta – fevereiro de 2015 |