Denise Cathilina
área de transferência
agosto de 2017
área de transferência
agosto de 2017
Área de Transferência
“As máquinas vão ficar cada vez mais parecidas
com o ser humano, e não o contrário.”
Lucia Santaella
Em eixos centrais, a palavra transferência tem como significado o ato de passar algo adiante - seja de um lugar a outro ou de uma pessoa a outra - e seus termos jurídicos, psicanalíticos e tecnológicos exigem como premissa que essa ação protocolar deva ser acompanhada por um registro. A ideia de tornar isso ou aquilo disponível a outrem, é o index da experiência proposta por Denise Cathilina nesta ocupação Área de Transferência, na qual discute e promove um desconcerto na conexão entre o real e o ficcional.
Sistemas internos de vigilância se tornaram corriqueiros em zonas comerciais e residenciais das cidades, pelo menos, nos últimos vinte anos. Apesar de, muitas vezes, a materialidade da tela estar revelada por completo diante das vistas, curiosamente passamos a não nos importar com o aprisionamento da imagem de nossa passagem projetada no vídeo ao entrarmos em diferentes espaços que vão desde consultórios médicos aos supermercados. Talvez a responsabilidade possa repousar sobre a gama de aparatos tecnológicos portáteis à mão do consumo, ou talvez estejamos com tanta pressa que o controle nos passa desapercebido.
Seja de qual jeito for, além do flagrante diário estamos entregues a toda sorte de smartphones, tablets, readers, laptops e outros instrumentos de ordem multitask contendo um sem número de aplicativos onde praticamos a vigília alheia. Poderosos sobre nossos gadgets ficamos rapidamente acostumados e inseridos nos desvios, compartilhamentos e bugs da comunicação digital.
O circuito integrado arquitetado por Denise e exibido do interior da Vitrine para a rua da galeria, amplia os limites da fotografia dentro de sua própria produção e entrega ao público transeunte uma maneira de se situar no espaço e no tempo. Desse modo, o trabalho se tornou uma máquina de ativar lembranças e afetos construídos, e inventados, pelos caminhantes das ruas do bairro de Santa Teresa.
Enquanto isso, o caráter instantâneo da foto é resgatado pelo estranhamento, durante o trânsito do passante, no momento em que encontra o reflexo de si mesmo exibido nas quatro TVs de tubo. Ali, a natureza do monitoramento é subvertida quando, desprevenidos sobre a mudança na paisagem, o público configura micro performances e idealiza narrativas involuntárias ao se deparar com a experiência sensorial a que nos convida a artista.
A situação encadeada por Denise Cathilina através do conjunto de TVs volumosas dos anos de 1990, de seus fios aparentes voltados ao perímetro urbano e da imagem repetida nos televisores cria um curto circuito na separação preordenada entre a mão humana e a tecnologia. Em face de toda essa inteligência artificial, Área de Transferência faz despertar do automatismo cotidiano entre vindas e idas, sinaliza novos meios de produção e circulação da imagem e abre uma caixa de diálogo com possíveis futuros ao criar um estado proposital de interdependência entre o espectador e as câmeras de supervisão adaptadas em rede.
Michaela Blanc
“As máquinas vão ficar cada vez mais parecidas
com o ser humano, e não o contrário.”
Lucia Santaella
Em eixos centrais, a palavra transferência tem como significado o ato de passar algo adiante - seja de um lugar a outro ou de uma pessoa a outra - e seus termos jurídicos, psicanalíticos e tecnológicos exigem como premissa que essa ação protocolar deva ser acompanhada por um registro. A ideia de tornar isso ou aquilo disponível a outrem, é o index da experiência proposta por Denise Cathilina nesta ocupação Área de Transferência, na qual discute e promove um desconcerto na conexão entre o real e o ficcional.
Sistemas internos de vigilância se tornaram corriqueiros em zonas comerciais e residenciais das cidades, pelo menos, nos últimos vinte anos. Apesar de, muitas vezes, a materialidade da tela estar revelada por completo diante das vistas, curiosamente passamos a não nos importar com o aprisionamento da imagem de nossa passagem projetada no vídeo ao entrarmos em diferentes espaços que vão desde consultórios médicos aos supermercados. Talvez a responsabilidade possa repousar sobre a gama de aparatos tecnológicos portáteis à mão do consumo, ou talvez estejamos com tanta pressa que o controle nos passa desapercebido.
Seja de qual jeito for, além do flagrante diário estamos entregues a toda sorte de smartphones, tablets, readers, laptops e outros instrumentos de ordem multitask contendo um sem número de aplicativos onde praticamos a vigília alheia. Poderosos sobre nossos gadgets ficamos rapidamente acostumados e inseridos nos desvios, compartilhamentos e bugs da comunicação digital.
O circuito integrado arquitetado por Denise e exibido do interior da Vitrine para a rua da galeria, amplia os limites da fotografia dentro de sua própria produção e entrega ao público transeunte uma maneira de se situar no espaço e no tempo. Desse modo, o trabalho se tornou uma máquina de ativar lembranças e afetos construídos, e inventados, pelos caminhantes das ruas do bairro de Santa Teresa.
Enquanto isso, o caráter instantâneo da foto é resgatado pelo estranhamento, durante o trânsito do passante, no momento em que encontra o reflexo de si mesmo exibido nas quatro TVs de tubo. Ali, a natureza do monitoramento é subvertida quando, desprevenidos sobre a mudança na paisagem, o público configura micro performances e idealiza narrativas involuntárias ao se deparar com a experiência sensorial a que nos convida a artista.
A situação encadeada por Denise Cathilina através do conjunto de TVs volumosas dos anos de 1990, de seus fios aparentes voltados ao perímetro urbano e da imagem repetida nos televisores cria um curto circuito na separação preordenada entre a mão humana e a tecnologia. Em face de toda essa inteligência artificial, Área de Transferência faz despertar do automatismo cotidiano entre vindas e idas, sinaliza novos meios de produção e circulação da imagem e abre uma caixa de diálogo com possíveis futuros ao criar um estado proposital de interdependência entre o espectador e as câmeras de supervisão adaptadas em rede.
Michaela Blanc
fotos Wilton Montenegro