Ainda como legado de questões que ecoam de sua última exposição individual, Terra Prometida[1], esse novo projeto, Em Carne Viva, expõe relações/fluxos imagéticos que, menos que entender ou procurar explicar suas relações, dialogam simbolicamente com a (precária?) percepção do outro em que os absurdos (materiais e carnais) se acumulam e que são negligenciados na vida real, mas valorizados e manipulados no mundo virtual. Por conseguinte, a pergunta: basta a arte apresentar essas imagens? (e um diálogo se constituirá?) Ou basta à arte apresentar essas imagens? Sim, os pesadelos ainda estão lá, à espreita. Como um filme que se desenrola, uma segunda pele é exposta. A exposição desses trabalhos é resultado de camadas mais e mais profundas que têm suas origens em repertórios sutis angariados em navegações noturnas, sob céus encobertos, nas nuvens. O mergulho exploratório encontra pseudo tesouros, especiarias perturbadoras, carcaças ideológicas naufragadas que insistem em permanecer em riste na mais obscura memória. E as águas passam turvas diante dos olhos semi abertos do artista que deixa à mostra horrores que nos espreitam, que queremos ignorar, para os quais encontramos desculpas intelectualmente elaboradas e vamos nos recolher na utopia de nossas boas intenções. O inferno é o pêndulo que diz “não” sem cessar. Osvaldo Carvalho é um desses provocadores do conforto visual, em que o belo é embaçado pela arguição direta de uma camada sem espessura, fina e cortante, de tinta especular, que reluz e é ouro para olhos tolos que ainda não aprenderam a enxergar. Suas linhas cruas em desenhos vívidos reiteram sua vocação pelo essencial e são correspondidas pelos recortes em tecido que revelam corpos abstratos, inidentificáveis senão pelo gesto, o mesmo que nos corrompe a moral, a ética, o bom senso, retratos de um país em fuga de seu futuro que se pretendeu grandioso, mas que restou obscuro. [1] Terra Prometida nome da exposição realizada pelo artista de março a maio de 2018 no Paço Imperial, Rio de Janeiro com curadoria de Marisa Flórido Cesar |