“[Os fotógrafos] não utilizam a arte para revelar o verdadeiro eu do artista mas para mostrar o eu como uma construção imaginária.”
Douglas Crimp Nada como a tentação de ser o outro que a fotografia pode permitir como miragem, depois de mais de um século de fidelidade ao referente, à realidade aparente de nossa imagem; o que não deixa de ser paradoxal numa época em que a procura da identidade se converte em itinerário urgente, dada a crise do sujeito e a desmaterialização do mundo em volta. Como re-definição sempre de nosso microcosmos, nossa imagem em curso sulca entre uma aventura ontológica, existencial, do ser, e aquela aventura instrumentalizada, seja pelas coordenadas da propaganda mais comercial ou até pela imposição de políticas de gênero, que não deixam de friccionar nosso território mais nuclear da subjetividade, sempre com fins mais direcionados do que livres. Neste contexto rarefeito, os nove autorretratos de Alexandre Marchetti mostram uma heteronímia visual, uma alteridade imagética oportuna. Um encontro imaginário com uma imagem própria que não deixa de se fixar de forma definitiva, por estar em trânsito, reconhecida a sua verdade ficcional, desconstruída. Como um ready-made visual cuja imagem está intervinda, Euoutro diz já em sua neologia semântica, a passagem metamórfica do eu para esse outro que sempre está aí na espreita. Adolfo Montejo Navas |