Juliana Kase
coluna
abril de 2011
coluna
abril de 2011
No meio da vitrine tinha uma coluna
O Projeto Vitrine Efêmera inicia suas atividades de 2011 com o trabalho de Juliana Kase intitulado Coluna. Em suas palavras a artista pretende utilizar o revestimento de pedras da fachada em torno da vitrine como molde para fabricar um espesso papel em relevo. Com ele construir uma base branca semelhante às utilizadas para sustentar esculturas-objeto, porém a base será ela mesma o objeto-escultura, não havendo nada em cima dela.
A aparente escassez formal ou aridez conceitual de sua proposta nos coloca, em verdade, diante de um pensamento muito bem articulado sobre os caminhos da escultura contemporânea, como que a dialogar com Rosalind Krauss a partir de seu livro Caminhos da Escultura Moderna, ao abordar as dificuldades do público em incorporar ao seu contexto diário ideias não convencionais de entendimento da obra de arte.
Por outro lado, intenta também esmiuçar dualidades como dentro e fora, ter e não ter, olhar e não olhar, querer e não querer, inclusão e exclusão, por meio de elementos sutis agregados à sua obra, no caso o revestimento da fachada aliado ao praticável branco muito comum em espaços expositivos.
Uma característica nos trabalhos de Juliana é justamente lançar mão de elementos mínimos para a execução de suas peças e intervenções nas quais observamos a expectativa em suspense pela descoberta que vem da absorção do mundo por ela modificado. Para essa intervenção ela pensa naqueles que vão à vitrine, vê-la como lugar de arte, e naqueles que apenas por ali passam e têm na vitrine o senso comum de ponto comercial.
Mas o que ela nos dá é uma pedra no meio do caminho.
Diante da tríplice coluna (formada pelas colunas do prédio e da artista) nos perguntamos sobre a arquitetura do lugar e o lugar da arte. O uso dos espaços e o espaço da arte. Tais questões suscitam mais que apenas uma mera abordagem descritiva, elas vão ao âmago do que é mesmo arte. “Quero ver como funcionará a dupla negação à utilidade, base e coluna que não dão sustentação”, assim coloca a artista que ironicamente brinca com a proposição minimalista de formular hipóteses estéticas sem investigar em profundidade a matéria. Por sua vez, ela usa o subterfúgio de pegar material industrializado, no caso papel, em que pode modificar seu aspecto e reconduzi-lo à condição de “molde do mundo” re(a)presentando uma nova feição para questões aparentemente resolvidas. A escultura apresentada, ainda que nos indique recorrência mimética, em verdade tripudia sobre esse desejo vulgar de ser uma réplica da vida.
De fato, temos uma quebra de premissas tão bem elaborada sobre a noção de base escultórica/suporte escultórico/escultura, que encontramos na obra Coluna um amálgama de momentos históricos na arte. Estar diante da obra de Juliana é entender que além de nos concentrarmos na confecção da sua superfície, sua frágil condição de sustentação, por assim dizer, não podemos dispensar o arcabouço interno de uma experiência estendida pelo tempo e espaço. “Simplicidade da forma não é necessariamente simplicidade da experiência”. (Robert Morris)
Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio da vitrine tinha uma coluna, tinha uma coluna no meio da vitrine. No meio da vitrine tinha uma coluna.
Osvaldo Carvalho
O Projeto Vitrine Efêmera inicia suas atividades de 2011 com o trabalho de Juliana Kase intitulado Coluna. Em suas palavras a artista pretende utilizar o revestimento de pedras da fachada em torno da vitrine como molde para fabricar um espesso papel em relevo. Com ele construir uma base branca semelhante às utilizadas para sustentar esculturas-objeto, porém a base será ela mesma o objeto-escultura, não havendo nada em cima dela.
A aparente escassez formal ou aridez conceitual de sua proposta nos coloca, em verdade, diante de um pensamento muito bem articulado sobre os caminhos da escultura contemporânea, como que a dialogar com Rosalind Krauss a partir de seu livro Caminhos da Escultura Moderna, ao abordar as dificuldades do público em incorporar ao seu contexto diário ideias não convencionais de entendimento da obra de arte.
Por outro lado, intenta também esmiuçar dualidades como dentro e fora, ter e não ter, olhar e não olhar, querer e não querer, inclusão e exclusão, por meio de elementos sutis agregados à sua obra, no caso o revestimento da fachada aliado ao praticável branco muito comum em espaços expositivos.
Uma característica nos trabalhos de Juliana é justamente lançar mão de elementos mínimos para a execução de suas peças e intervenções nas quais observamos a expectativa em suspense pela descoberta que vem da absorção do mundo por ela modificado. Para essa intervenção ela pensa naqueles que vão à vitrine, vê-la como lugar de arte, e naqueles que apenas por ali passam e têm na vitrine o senso comum de ponto comercial.
Mas o que ela nos dá é uma pedra no meio do caminho.
Diante da tríplice coluna (formada pelas colunas do prédio e da artista) nos perguntamos sobre a arquitetura do lugar e o lugar da arte. O uso dos espaços e o espaço da arte. Tais questões suscitam mais que apenas uma mera abordagem descritiva, elas vão ao âmago do que é mesmo arte. “Quero ver como funcionará a dupla negação à utilidade, base e coluna que não dão sustentação”, assim coloca a artista que ironicamente brinca com a proposição minimalista de formular hipóteses estéticas sem investigar em profundidade a matéria. Por sua vez, ela usa o subterfúgio de pegar material industrializado, no caso papel, em que pode modificar seu aspecto e reconduzi-lo à condição de “molde do mundo” re(a)presentando uma nova feição para questões aparentemente resolvidas. A escultura apresentada, ainda que nos indique recorrência mimética, em verdade tripudia sobre esse desejo vulgar de ser uma réplica da vida.
De fato, temos uma quebra de premissas tão bem elaborada sobre a noção de base escultórica/suporte escultórico/escultura, que encontramos na obra Coluna um amálgama de momentos históricos na arte. Estar diante da obra de Juliana é entender que além de nos concentrarmos na confecção da sua superfície, sua frágil condição de sustentação, por assim dizer, não podemos dispensar o arcabouço interno de uma experiência estendida pelo tempo e espaço. “Simplicidade da forma não é necessariamente simplicidade da experiência”. (Robert Morris)
Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio da vitrine tinha uma coluna, tinha uma coluna no meio da vitrine. No meio da vitrine tinha uma coluna.
Osvaldo Carvalho