O trabalho do Coletivo CoRa - integrado por Darío Ramírez e Mónica Contreras - busca questionar a materialidade e as convenções de meios como a pintura, as artes gráficas e seus respectivos clichês. As experiências da dupla são assimiladas e retrabalhadas possibilitando o surgimento de uma obra interdisciplinar, que explora temáticas relacionadas à ornamentação e à padronagem. Individualmente Mónica Contreras centra sua produção no reconhecimento do corpo como gerador de uma personalidade individual,e também do corpo como ativador de processos espirituais, sociais, artísticos e psicológicos, usando posturas relativas à identidade feminina, como cozinhar, costurar, bordar e tecer. Nos questionamentos da artista estão perguntas como: O que forja a identidade de uma pessoa? Como expressar-se através de uma obra plástica? No caso dela, o fazer manual aprendido na infância é transmutado em proposta artística que resulta em análise perspectiva da arte de gênero. Darío Ramírez se apropria de materiais encontrados ao seu entorno, estabelecendo noções de tempo e espaço através de estados como reciclado, ampliado, cheio e vazio. Sua intimidade com a gravura, desenvolvida ao longo dos anos, levanta questões sobre a passagem do tempo revelada pela matéria. Uma das videoinstalações que Beatriz Pimenta apresenta, realizada no Rio de Janeiro,à partir da foto de autoria anônima conhecida como “Degola de Lampião”, é transmitida em uma tevê. No vídeo, em lugar das cabeças dos cangaceiros mortos estão cabeças de artistas contemporâneos, que alternadamente abrem e fecham os olhos ao som de uma máquina de costura em funcionamento. Fragmentos de textos de fontes contraditórias, imagens do Torso de Belvedere, de Perseu e de cabeças em gesso do acervo do Museu D. João VI (EBA-UFRJ) estão impressos em pedaços de papel branco amarrados com linhas em dedos de gesso, de autoria da artista Bia Martins. A crueza da imagem nos transporta e nos faz refletir sobre a ideia da degeneração atribuída à mistura de raças, teoria iniciada no final do século XIX, definitivamente rejeitada depois da trágica experiência do nazismo. No lugar das cabeças dos rebeldes o que se apresenta são cabeças de artistas jovens, que faz permanecer viva a história de cangaceiros mitologizada por autores, cineastas e artistas brasileiros, história que resgata nosso passado escravocrata e colonial nos sertões do Brasil, ainda medieval no início do século XX. Na outra videoinstalação, produzida a partir de vídeos realizados no México, dois fragmentos de espaço-tempo se sobrepõem em movimentos conflitantes, como a citação final da artista que afirma que qualquer semelhança do que foi mostrado com a nossa história é mera coincidência. Quando o que vemos na tela é um espelho de nós mesmos: ao fundo de uma cultura exótica e atraente, uma sociedade injusta ordenada pela violência. Julio Castro e Sergio Viveiros |