Monica Barki
a pistoleira
junho de 2012
a pistoleira
junho de 2012
De Barbara Stanwyck a Kátia Flávia
O afeto pela indiferença
Em seus trabalhos mais recentes com desenhos feitos a partir de imagens oriundas da internet, Monica Barki tem procurado discutir o universo feminino pelo viés da dominação com mulheres eroticamente poderosas. Para o seu projeto de Vitrine Efêmera ela segue essa mesma linha de proposição ao nos apresentar a instalação A Pistoleira.
Cruzando instantes de sua produção como em suas colagens preparatórias para suas pinturas e como em sua Máquina de Ativar Diabinhos, a artista nos oferece um desconcertante cinema de um único frame de múltiplas arestas em que vemos repetir-se a imagem de uma mulher que olha para onde apontam seus tantos mamilos pontiagudos que parecem lançar projéteis a esmo. A cena traz o arquétipo da loura fatal que nos leva a pensar sobre o que encontraremos pela frente: a pistoleira é a assassina profissional, a matadora de aluguel ou a interesseira que topa qualquer coisa, uma espécie de prostituta?
O instante que levamos para definir a melhor propositura para a questão é justamente o contraponto daquilo que se apresenta a cada momento em que a trapizonga arquitetada em minúcias se instaura não mais como unidade de tempo, mas como o tempo por completo, preenchido da mesma extensa imagem a se repetir indefinidamente no horizonte possível da vitrine aos olhos do espectador que aciona a maquinaria com sua presença de maneira simples e objetiva parafraseando em baixa tecnologia o que Edmond Couchot chama de reencontro.
A femme fatale de Monica está a nos seduzir e ludibriar e abandonar e depois, sem escrúpulos, nos subjugar com sua presença intermitente em nosso imaginário. As colagens assimétricas dão conta dessa relação entre parceiros em constante variação entre afeto e indiferença. Talvez seja uma vivência de acasos que fogem às normas sociais como a personagem de Barbara Stanwyck em Pacto de Sangue que convence o amante a matar o marido por conta de um seguro de acidentes pessoais ou Kátia Flávia, a Godiva de Irajá, que casada com um figurão contravenção o matou sabe-se lá por quê. Ambas louras e distantes do enquadramento racional jogam com armas que desnorteiam o sistema pautado no herói, posto que essas anti-heroínas são alheias ao bem ou ao mal.
A Pistoleira não é apenas um recorte repisado, é uma constatação do estado da arte que, descentralizado, se fragmentou em discursos variados buscando a melhor interpretação de circunstâncias pessoais com potências universais para a arte como forma de pensamento, como forma de reflexão, em última instância, do estado humano.
Osvaldo Carvalho
O afeto pela indiferença
Em seus trabalhos mais recentes com desenhos feitos a partir de imagens oriundas da internet, Monica Barki tem procurado discutir o universo feminino pelo viés da dominação com mulheres eroticamente poderosas. Para o seu projeto de Vitrine Efêmera ela segue essa mesma linha de proposição ao nos apresentar a instalação A Pistoleira.
Cruzando instantes de sua produção como em suas colagens preparatórias para suas pinturas e como em sua Máquina de Ativar Diabinhos, a artista nos oferece um desconcertante cinema de um único frame de múltiplas arestas em que vemos repetir-se a imagem de uma mulher que olha para onde apontam seus tantos mamilos pontiagudos que parecem lançar projéteis a esmo. A cena traz o arquétipo da loura fatal que nos leva a pensar sobre o que encontraremos pela frente: a pistoleira é a assassina profissional, a matadora de aluguel ou a interesseira que topa qualquer coisa, uma espécie de prostituta?
O instante que levamos para definir a melhor propositura para a questão é justamente o contraponto daquilo que se apresenta a cada momento em que a trapizonga arquitetada em minúcias se instaura não mais como unidade de tempo, mas como o tempo por completo, preenchido da mesma extensa imagem a se repetir indefinidamente no horizonte possível da vitrine aos olhos do espectador que aciona a maquinaria com sua presença de maneira simples e objetiva parafraseando em baixa tecnologia o que Edmond Couchot chama de reencontro.
A femme fatale de Monica está a nos seduzir e ludibriar e abandonar e depois, sem escrúpulos, nos subjugar com sua presença intermitente em nosso imaginário. As colagens assimétricas dão conta dessa relação entre parceiros em constante variação entre afeto e indiferença. Talvez seja uma vivência de acasos que fogem às normas sociais como a personagem de Barbara Stanwyck em Pacto de Sangue que convence o amante a matar o marido por conta de um seguro de acidentes pessoais ou Kátia Flávia, a Godiva de Irajá, que casada com um figurão contravenção o matou sabe-se lá por quê. Ambas louras e distantes do enquadramento racional jogam com armas que desnorteiam o sistema pautado no herói, posto que essas anti-heroínas são alheias ao bem ou ao mal.
A Pistoleira não é apenas um recorte repisado, é uma constatação do estado da arte que, descentralizado, se fragmentou em discursos variados buscando a melhor interpretação de circunstâncias pessoais com potências universais para a arte como forma de pensamento, como forma de reflexão, em última instância, do estado humano.
Osvaldo Carvalho