Os espaços e o silêncio
Ao longo de 30 anos de produção artística a obra desenhada de Carlos Wladimirsky tem revelado um consistente poder de atrair o nosso olhar. Ao compreendermos seu caráter reflexivo, certo silêncio se impõe, é uma obra capaz de agenciar configurações de cores, formas e signos que despertam nossa inclinação ao afeto com as coisas do mundo. Há um misto de delicadeza e elegância no trato do real e isto nos sugere a aceitação otimista das contingências humanas. Todos os elementos geométricos são contraditoriamente imprecisos, em toda sugestão de construção há algum tipo de desequilíbrio ou assimetria onde se esperaria o contrário. A leveza do seu olhar sobre coisas mínimas opõe-se àquele sobre grandes estruturas. Podemos entender nisso uma política. Ao otimismo depositado na abstração geométrica Wladimirsky opõe um olhar cauteloso, um tanto cético - daí as imprecisões de suas geometrias. Elas são uma afirmação inequívoca da falibilidade das coisas humanas. O princípio de instabilidade existencial é compensado, no entanto por sua obra ser também uma afirmação da poética das coisas do mundo. A organização dos elementos, as texturas, as relações dos personagens plásticos estão impregnados das nossas experiências com a diversidade natural. Como não ver nesses desenhos a remissão às texturas dos mais diversos minerais, dos troncos das árvores, dos materiais oxidados, das terras, da superfície das conchas, dos céus noturnos, do fogo, do carvão e da água? A cada centímetro o mundo natural é agenciado e transfigurado, as marcas do artesanal reforçam mais o poder natural da mão do que dos instrumentos, sobre materiais específicos Wladimirsky instrumentaliza o que está no seu alcance imediato, mãos e olhos, por estas características sua obra é sensivelmente permeada por uma íntegra concepção de estar-se no mundo. Mário Röhnelt |
Noite de abertura |