Paulo Bruscky
esta vitrine foi dedetizada contra arte
agosto de 2015
esta vitrine foi dedetizada contra arte
agosto de 2015
Uma armadilha imagética
Ainda em tempo, a obra que foi idealizada para o projeto VITRINE EFÊMERA por Paulo Bruscky, saída do forno urgentemente como um comunicado (prática pública do artista que sempre mexeu nas instâncias obra-meio-espaço-público, não sem atrito), visa atingir aquelas situações limítrofes em que a arte e a visualidade cada vez mais se encontram ou se superpõem para debater algo mais que seu espaço real em litígio e muito mais o simbólico. No caso, trata-se de uma operação linguística oportuna e pontual que se coloca em um limiar do sentido, aquele que oferece duas faces contraditórias, como uma ironia que dá voltas sobre si mesma, dependendo de quem visualiza e interpreta, tal é a armadilha imagética, pois o anúncio (de perfume pós-dadá-fluxista mas afinado com nossa iconografia contemporânea) é a própria obra: ESTA VITRINE FOI DEDETIZADA CONTRA ARTE, como frase colocada num espaço alternativo de artes visuais como é Estudio Dezenove, é decididamente uma contra-publicidade, de caráter higiênica (até pelo seu oxigênio ser também humorístico) que sabe zombar sobre o status ou fé nessa imparável sociedade estetizada e a sua promoção de produtos de baixa densidade ou de reduzida frequência artística e simbólica. Ou incluso parodiar a imparável conversão de tudo em mercado, mercadorias, em aura econômica... De fato, nesta ação de dedetização há um serviço de limpeza perceptivo (que se religa em certo modo com a performance em Foz de Iguaçu, Operação nas cataratas, 2012, que simulava análise de visão aos turistas); nesta recente intervenção há quase um gesto oriental, um acionar a imaginação interna, reflexiva como um grau zero que evidencia a precária, incerta, ilusória identidade da imagem em nossos dias -que diria Boris Groys-, por seu deslizamento de natureza e função (não parece haver suporte duro, sólido nem para as imagens tradicionais). A mise em image se alia então à mise em abyme que o próprio contexto da arte encena com seus fetiches; Bruscky, que trabalhou com out doors de forma pioneira, des-construindo a sua semântica unidimensional ou instrumental, aqui apresenta uma iconografia paródica, meta-linguística que veda a visão domesticada de nosso olhar ou a curiosidade só voyeurista dos passantes, colocando o interior da vitrine -vazio de objetos- na superfície exterior -o espaço como pele-, numa quase não-vitrine mas que se resiste a se converter em mero não-lugar, em reclamo para o mero trânsito, em idolatria fungível.
Adolfo Montejo Navas
Ainda em tempo, a obra que foi idealizada para o projeto VITRINE EFÊMERA por Paulo Bruscky, saída do forno urgentemente como um comunicado (prática pública do artista que sempre mexeu nas instâncias obra-meio-espaço-público, não sem atrito), visa atingir aquelas situações limítrofes em que a arte e a visualidade cada vez mais se encontram ou se superpõem para debater algo mais que seu espaço real em litígio e muito mais o simbólico. No caso, trata-se de uma operação linguística oportuna e pontual que se coloca em um limiar do sentido, aquele que oferece duas faces contraditórias, como uma ironia que dá voltas sobre si mesma, dependendo de quem visualiza e interpreta, tal é a armadilha imagética, pois o anúncio (de perfume pós-dadá-fluxista mas afinado com nossa iconografia contemporânea) é a própria obra: ESTA VITRINE FOI DEDETIZADA CONTRA ARTE, como frase colocada num espaço alternativo de artes visuais como é Estudio Dezenove, é decididamente uma contra-publicidade, de caráter higiênica (até pelo seu oxigênio ser também humorístico) que sabe zombar sobre o status ou fé nessa imparável sociedade estetizada e a sua promoção de produtos de baixa densidade ou de reduzida frequência artística e simbólica. Ou incluso parodiar a imparável conversão de tudo em mercado, mercadorias, em aura econômica... De fato, nesta ação de dedetização há um serviço de limpeza perceptivo (que se religa em certo modo com a performance em Foz de Iguaçu, Operação nas cataratas, 2012, que simulava análise de visão aos turistas); nesta recente intervenção há quase um gesto oriental, um acionar a imaginação interna, reflexiva como um grau zero que evidencia a precária, incerta, ilusória identidade da imagem em nossos dias -que diria Boris Groys-, por seu deslizamento de natureza e função (não parece haver suporte duro, sólido nem para as imagens tradicionais). A mise em image se alia então à mise em abyme que o próprio contexto da arte encena com seus fetiches; Bruscky, que trabalhou com out doors de forma pioneira, des-construindo a sua semântica unidimensional ou instrumental, aqui apresenta uma iconografia paródica, meta-linguística que veda a visão domesticada de nosso olhar ou a curiosidade só voyeurista dos passantes, colocando o interior da vitrine -vazio de objetos- na superfície exterior -o espaço como pele-, numa quase não-vitrine mas que se resiste a se converter em mero não-lugar, em reclamo para o mero trânsito, em idolatria fungível.
Adolfo Montejo Navas