Pedro Paulo Domingues
a mecânica do sonho
julho de 2011
a mecânica do sonho
julho de 2011
Entre realidade e ficção
Para a psicologia analítica de Jung a interpretação do sonho é a sua chave mestre, pois é daí que o consciente recebe informações do inconsciente, ao contrário de Freud que entende o absurdo do sonho como uma fachada para o desejo contido.
A Mecânica do Sonho, trabalho apresentado por Pedro Paulo Domingues para esta Vitrine Efêmera reflete-se entre esses dois momentos: um que fala diretamente como forma, expresso em matéria, e outro, menos óbvio, que trata do conteúdo visionário inerente ao artista. Usando de uma conjugação de variáveis em que encontramos areia, mesa, ventilador, um pano cobrindo uma cabeça, percebemos detalhes que transpõem o mero acaso para se inserirem na contundência de observações. A mesa tem uma de suas pernas quebrada; a areia cobre todo o lugar; a cabeça torna-se uma morfologia, mais que uma constatação. Tudo envolvendo o observador numa dicotomia de consciência na qual participa passiva e ativamente transitando ao mesmo tempo entre os universos da ficção e da realidade.
Em sua singular mecânica
Pedro Paulo articula um diálogo em termos daquilo que Edgar Mourin salienta como “relação estética que destrói o fundamento da crença, porque o imaginário permanece como imaginário, não existindo em si uma dádiva a valores transcendentais”, uma vez que a proposta de um método possível para o entendimento do inconsciente seja aqui ironia do artista que nos remonta ao mais improvável dos casos se lembrarmos que Descartes criou seu sistema científico a partir de um sonho.
Poderíamos dizer que a máquina/cérebro está em relação direta com os influxos externos posteriormente organizados durante o sonho como crê a neurociência. E é exatamente aí que o artista interroga as bases dessa assertiva ao propor uma plataforma manca em terreno arenoso. Todo o conjunto adquire uma carga instável e precária, ventilada por ambiguidades que modificam a todo instante a percepção do fino véu que cobre nossos desejos. Ao elencar seus termos que supostamente vaticinam como funciona sonhar, entendemos que sua explanação se faz prodigiosa de pensamentos aleatórios intermináveis.
Percebemos que suas escolhas recaem não sobre a aridez, mas sobre o profícuo campo das argumentações conceituais, ou seja, o continuum da criação. Pedro Paulo ventaneia sobre si e sobre nós reminiscências de acontecimentos, não os passados, findos, mas os presentes, permanentes, que nos contam o que é viver o sonho.
Osvaldo Carvalho
Para a psicologia analítica de Jung a interpretação do sonho é a sua chave mestre, pois é daí que o consciente recebe informações do inconsciente, ao contrário de Freud que entende o absurdo do sonho como uma fachada para o desejo contido.
A Mecânica do Sonho, trabalho apresentado por Pedro Paulo Domingues para esta Vitrine Efêmera reflete-se entre esses dois momentos: um que fala diretamente como forma, expresso em matéria, e outro, menos óbvio, que trata do conteúdo visionário inerente ao artista. Usando de uma conjugação de variáveis em que encontramos areia, mesa, ventilador, um pano cobrindo uma cabeça, percebemos detalhes que transpõem o mero acaso para se inserirem na contundência de observações. A mesa tem uma de suas pernas quebrada; a areia cobre todo o lugar; a cabeça torna-se uma morfologia, mais que uma constatação. Tudo envolvendo o observador numa dicotomia de consciência na qual participa passiva e ativamente transitando ao mesmo tempo entre os universos da ficção e da realidade.
Em sua singular mecânica
Pedro Paulo articula um diálogo em termos daquilo que Edgar Mourin salienta como “relação estética que destrói o fundamento da crença, porque o imaginário permanece como imaginário, não existindo em si uma dádiva a valores transcendentais”, uma vez que a proposta de um método possível para o entendimento do inconsciente seja aqui ironia do artista que nos remonta ao mais improvável dos casos se lembrarmos que Descartes criou seu sistema científico a partir de um sonho.
Poderíamos dizer que a máquina/cérebro está em relação direta com os influxos externos posteriormente organizados durante o sonho como crê a neurociência. E é exatamente aí que o artista interroga as bases dessa assertiva ao propor uma plataforma manca em terreno arenoso. Todo o conjunto adquire uma carga instável e precária, ventilada por ambiguidades que modificam a todo instante a percepção do fino véu que cobre nossos desejos. Ao elencar seus termos que supostamente vaticinam como funciona sonhar, entendemos que sua explanação se faz prodigiosa de pensamentos aleatórios intermináveis.
Percebemos que suas escolhas recaem não sobre a aridez, mas sobre o profícuo campo das argumentações conceituais, ou seja, o continuum da criação. Pedro Paulo ventaneia sobre si e sobre nós reminiscências de acontecimentos, não os passados, findos, mas os presentes, permanentes, que nos contam o que é viver o sonho.
Osvaldo Carvalho