PLANOS
Se o espaço é infinito, estamos em qualquer ponto do espaço.
Se o tempo é infinito, estamos em qualquer ponto do tempo.
Jorge Luis Borges
Manoel Novello, arquiteto por formação, tem em sua poética a geometria, as cores vibrantes, a luz e o movimento. As retas convidam o olhar a seguir pelos espaços criados, pelas intercessões, por novos planos. Transitando com intimidade entre pontos e retas, o artista propõe, a cada obra, novas percepções. São pinturas ou instalações tridimensionais que revelam interesses e contam de aprendizados.
Se fosse possível usar apenas dois conceitos para falar do trabalho de Novello, escolheria o seu constante empenho em construir a forma justa e a procura do equilíbrio. A paisagem urbana, que tantas vezes Manoel trouxe para as telas, seria esse lugar mais humano, mais justo, fiel à perfeição do universo. A obra de Novello segue caminhos bem definidos e suas pesquisas levam a experiências que provocam o espectador despertando pensamentos intrínsecos ao mundo em que vivemos. “Um mundo denso ou físico onde tudo é preso ou gira em função da força da gravidade”, comenta o artista cujo olhar inquieto percebe e questiona, constantemente, o entorno. É nesse diálogo entre artista e espectador que reside o desenvolvimento da obra. Em seus trabalhos sempre estiveram presentes retas que se cruzam, cores que dizem mais do que a figuração e um projeto desafiador que precede a execução primorosa. A trajetória da linha é segura e quem se dispuser a segui-la vai se surpreender, pois o pensamento construtivo do artista encontra atalhos e supera barreiras.
Em Planos, Manoel Novello explora a ideia do conjunto de retas alinhadas, formadoras de uma superfície plana, que não faz curvas e é infinita em todas as direções. A diversidade das cores e a singularidade do projeto remetem não apenas à geometria, mas, certamente, e de modo mais intenso, à construção de formas e espaços equilibrados, onde tudo contribui para representar sua visão de mundo. Para Novello a imagem deve ser uma forma de discurso, uma clara trilha a ser percorrida para falar de tantas verdades.
Isabel Portella
Rio de Janeiro, março de 2024.
Rio de Janeiro, 1961. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Formado em Arquitetura e Urbanismo (FAU-UFRJ), começa a trabalhar na profissão, ainda como estagiário em lugares fundamentais para o desenvolvimento da sua experiência de observador ativo, como a Fundação Nacional Pró-Memória, na recuperação do prédio do Paço Imperial, no escritório HJ Cole + Associados e já como arquiteto, na Companhia Brasileira de Trens Urbanos. O interesse pela geometria, projetos, conceitos, fluxos, construção e reconstrução dentro do espaço urbano já faziam parte da sua vivência quando inicia sua formação em artes visuais na Escola do Parque Lage, Rio de Janeiro. A pintura se tornou o meio de expressão principal na sua produção artística, que se apresenta também através da fotografia, desenho e, recentemente, instalação. Uma linguagem enxuta e complexa, de linhas e elementos geométricos, proveniente do desenho de arquitetura, são apagados, substituídos por outros que os cobrem, durante o processo de trabalho. A imagem é sempre sustentada por superfícies de cores que, em conjunto, formam o ambiente que o artista deseja transmitir nessa representação da sensação do espaço urbano. Vivência introjetada em cada sujeito: a paisagem e sua geometria, o espaço em sua dinâmica e a velocidade em seu tempo. Seus trabalhos são criados a partir de um processo de construção e reconstrução. Manoel Novello estabelece um diálogo da sua produção com a observação da metrópole onde vive e de outras para onde viaja, eventualmente.
|
|