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O Instituto Estadual de Artes Visuais (IEAVi), o Serviço Social do Comércio do Rio Grande do Sul (Sesc/RS) realizam a exposição itinerante “Magliani - Obra Gráfica”,
São cerca de 70 gravuras e pinturas produzidas durante a carreira de Magliani, que integram o projeto de iniciativa do Núcleo Magliani, centro de referência da obra da artista, fundado em 2013 por Julio Castro, que assina a curadoria da mostra.
As obras passaram pelo Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (MALG), em Pelotas, pela Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim, em Caxias do Sul, em abril passa pelo MASM e finaliza sua itinerância em junho de 2024 em Porto Alegre, no Museu de Arte Contemporânea do RS (MACRS).
A itinerância é uma parceria entre o Instituto Estadual de Artes Visuais (IEAVi), equipamento da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), e o Serviço Social do Comércio (Sesc/RS), e tem o objetivo de promover o incentivo à produção, à difusão e à circulação das artes visuais no território gaúcho.
São cerca de 70 gravuras e pinturas produzidas durante a carreira de Magliani, que integram o projeto de iniciativa do Núcleo Magliani, centro de referência da obra da artista, fundado em 2013 por Julio Castro, que assina a curadoria da mostra.
As obras passaram pelo Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (MALG), em Pelotas, pela Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim, em Caxias do Sul, em abril passa pelo MASM e finaliza sua itinerância em junho de 2024 em Porto Alegre, no Museu de Arte Contemporânea do RS (MACRS).
A itinerância é uma parceria entre o Instituto Estadual de Artes Visuais (IEAVi), equipamento da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), e o Serviço Social do Comércio (Sesc/RS), e tem o objetivo de promover o incentivo à produção, à difusão e à circulação das artes visuais no território gaúcho.
Vento sul
Sempre que a pelotense Maria Lídia Magliani realizava uma exposição no Rio Grande do Sul era um acontecimento, como uma lufada do Minuano, sacudia estruturas.
As obras aqui apresentadas nos contam histórias repletas de personagens que nos indagam e fazem refletir. A artista possuía o dom de observar hipocrisias e tragédias da sociedade. Em alguns trabalhos rostos idiotizados se revelam, provável legado de sua experiência com teatro. Os rostos individualizados da série Todos (2005) possuem afinidades com os da série Um de Todos, máscaras em metamorfose, seriadas, persona. O sutiã desconfortável da série Alfabeto (2004) nos faz pensar na luta emancipatória feminina (dança gráfica?). Suas séries surgem em narrativas às vezes simultâneas como em Os Outros (2009) e Retratos de Ninguém. Em Cartas (2010), temos três pinturas de intenso cromatismo, com pinceladas curtas que lembram o gesto da incisão na madeira-matriz de uma xilogravura – a pintura se contamina. Na gangorra entre austeridade e bom humor, a artista brinca com a nossa percepção ao fragmentar e tornar cambiante o espaço em xilogravuras com aspectos de colagem. Já no quase absoluto preto e branco da última série, Procura-se (2012), a figura é despersonificada em retratos insólitos. Há um tom quase solene de despedida.
A exposição MAGLIANI GRÁFICA traz a carga do expressionismo que perpassa quase toda a obra da artista e nela, as influências de um passado jornalístico se revelam, assim como a sua relação com a literatura. Dostoiévski era seu autor favorito. Imaginemos o impacto na leitora Magliani ao se deparar com as xilogravuras ricas em ângulos e texturas com que o artista austríaco Axl Leskoschek ilustrou a tradução brasileira das obras do autor russo. A maestria rende frutos duradouros.
Todo ser sem fronteiras parte para o mundo vindo de algum ponto e é significativo que a itinerância desse conjunto, ao reunir de maneira inédita no sul do país a obra em gravura de Magliani, tenha início em Pelotas: Praia do Laranjal, pêssegos maduros, Pompas Fúnebres na Praça Coronel Pedro Osório. No fundo, sempre esteve tudo lá.
Julio Castro e Sergio Viveiros
Rio de Janeiro, outubro de 2023
Sempre que a pelotense Maria Lídia Magliani realizava uma exposição no Rio Grande do Sul era um acontecimento, como uma lufada do Minuano, sacudia estruturas.
As obras aqui apresentadas nos contam histórias repletas de personagens que nos indagam e fazem refletir. A artista possuía o dom de observar hipocrisias e tragédias da sociedade. Em alguns trabalhos rostos idiotizados se revelam, provável legado de sua experiência com teatro. Os rostos individualizados da série Todos (2005) possuem afinidades com os da série Um de Todos, máscaras em metamorfose, seriadas, persona. O sutiã desconfortável da série Alfabeto (2004) nos faz pensar na luta emancipatória feminina (dança gráfica?). Suas séries surgem em narrativas às vezes simultâneas como em Os Outros (2009) e Retratos de Ninguém. Em Cartas (2010), temos três pinturas de intenso cromatismo, com pinceladas curtas que lembram o gesto da incisão na madeira-matriz de uma xilogravura – a pintura se contamina. Na gangorra entre austeridade e bom humor, a artista brinca com a nossa percepção ao fragmentar e tornar cambiante o espaço em xilogravuras com aspectos de colagem. Já no quase absoluto preto e branco da última série, Procura-se (2012), a figura é despersonificada em retratos insólitos. Há um tom quase solene de despedida.
A exposição MAGLIANI GRÁFICA traz a carga do expressionismo que perpassa quase toda a obra da artista e nela, as influências de um passado jornalístico se revelam, assim como a sua relação com a literatura. Dostoiévski era seu autor favorito. Imaginemos o impacto na leitora Magliani ao se deparar com as xilogravuras ricas em ângulos e texturas com que o artista austríaco Axl Leskoschek ilustrou a tradução brasileira das obras do autor russo. A maestria rende frutos duradouros.
Todo ser sem fronteiras parte para o mundo vindo de algum ponto e é significativo que a itinerância desse conjunto, ao reunir de maneira inédita no sul do país a obra em gravura de Magliani, tenha início em Pelotas: Praia do Laranjal, pêssegos maduros, Pompas Fúnebres na Praça Coronel Pedro Osório. No fundo, sempre esteve tudo lá.
Julio Castro e Sergio Viveiros
Rio de Janeiro, outubro de 2023