Em 1993, Iberê Camargo afirmava em entrevista para a revista Veja: “Eu não nasci para brincar com a figura, fazer berloques, enfeitar o mundo. Eu pinto porque a vida dói.”[1] A frase poderia ter sido escrita por Maria Lídia Magliani, cuja obra conflui em muitos aspectos com a de Iberê. Os dois artistas optaram pela matriz expressionista, sem se importar com o fato de o movimento estar, ou não, em voga; sempre defenderam, com veemência, a pintura como forma de expressão, mesmo quando pressionados a buscar uma arte mais experimental, e seus trabalhos são contundentes, urgentes e ríspidos – como os ventos do Sul. Também gaúcha, 32 anos mais jovem, Magliani era mulher, negra e pobre, e, embora essa conjunção tenha freado muitas vezes sua produção, foi também o cadinho de sua obra, que é visceral, dolorida e pungente – “uma arte para incomodar”.[2] Na carta de Iberê Camargo para Magliani[3], localizada no material documental da Fundação Iberê, durante a pesquisa para a exposição que agora apresentamos, e reproduzida na abertura do catálogo, o artista, que não era pródigo em elogios, reconhece a afinidade entre a obra de ambos com as palavras: “Nós dois temos a mesma meta, o mesmo ideal, a mesma devoção.” Um eloquente endosso do mestre gaúcho para Maria Lídia Magliani e uma confirmação do acerto da Fundação Iberê em trazer para o público uma grande retrospectiva da artista. Denise Mattar - texto para o catálogo da exposição MAGLIANI (fragmento). |